domingo, 17 de Junho de 2012

Juvenal: "Em Coimbra um gajo nunca sabe o ano"


Quando eu era novo, há muito tempo atrás - embora não pareça porque as pessoas costumam dizer-me que estou «muito bem para a idade», havia uma banda desenhada que era passada em Coimbra para aí nos anos 60 ou lá o que era porque em Coimbra um gajo nunca sabe o ano porque eles são a cidade mais atrasada do mundo que, segundo uns estudos que «eles» - os da conspiração - fizeram, só tem água canalizada desde 2005 (antes as pessoas iam com um balde logo de manhã ao Mondego para trazer água para casa e fazer o café e lavar o escroto - normalmente por esta ordem, mas houve, segundo outros registos de outros estudos anteriores feitos pela contra-conspiração, pessoas que o faziam pela ordem inversa, coisa que originou a expressão «café de merda») e um telefone público que é naquela praçazinha cá em baixo como quem vai apanhar o eléctrico que tem pneus e não rodinhas como os eléctricos normais, e eu já estive em Bruxelas, por isso, em termos de cidades aborrecidas, sei do que falo. Como sempre, aliás. Até tenho isso no currículo a dizer que tenho «bué opiniões sobre cenas» e sou boa companhia à hora de almoço porque me esforço para falar dos temas que interessam à maioria dos mortais. Telemóveis.

Nessa banda desenhada, era quase só pessoas de bigode e camisas de flanela que passavam os dias em cafés a ameijoar com copos de aguardente e diziam mal de coisas em geral e em particular porque era isso que se fazia nos anos 60 em Coimbra. Muito diferente do que se faz agora, que é morrer de tédio e sofrer em geral. Aquilo vinha tudo nuns fascículos que se compravam em lojas clandestinas entre a Duque d’Ávila e a João Crisóstomo ainda dum homenzinho do tempo do regime. Muito amigo do Cardeal Cerejeira, segundo o próprio gostava de dizer, claramente a embandeirar em arco depois de passar o dia a encanar a perna à rã. A banda desenhada acabou por evoluir para um vampiro que se fez atropelar de propósito por um carro (o que as pessoas em Coimbra fazem para não ir trabalhar) para ficar de cama no hospital a levar transfusões, porque o que custava não era viver, mas sim saber viver. Para mim, mergulhem-me numa panela de favas com farinheira com um pires de amêijoas a boiar. E imperiais. Muitas imperiais.

Por: Juvenal


Crónica publicada na edição #10 da Revista 21

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