Isadora Bellavinha Maciel foi, aos 21 anos, a protagonista de capa da primeira edição mensal da Revista 21. Criativa e perspicaz, esta pesquisadora na área de literatura encarnou por inteiro o espírito da revista, numa sessão dedicada ao Dia de los Muertos e fotografada por André Luiz Pires.
Por: Tiago Matos
Quando me olho ao espelho, vejo...
Não sei falar objectivamente sobre mim, ou sobre qualquer outra coisa. Vejo milhares de olhos e ouvidos atentos, pernas a sair pela cabeça, cortes, veias, braços deslocados, joelhos tortos e alguma melancolia vertical.
Tenho como principal ambição...
Passar para papel algo do que vejo e sinto, compartilhar, confortar ou desconfortar alguém - um que seja - com os meus rascunhos.
A minha maior conquista até hoje...
Foi encontrar o maior amor do mundo e vivê-lo independente das dores e das angústias.
Não há nada mais sensual que...
Olhos tristes e uma mulher recém-acordada, sonolenta.
O grande problema da sociedade é...
Confortar-se na catástrofe, dormir tranquila e cega na ignorância.
Poucos o sabem sobre mim, mas...
Acredito na maioria das minhas mentiras. Tornam-se memórias inventadas e muitas vezes não me consigo lembrar se são verdadeiras ou apenas peripécias juvenis.
No cinema..
Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Jeunet.
Na música...
Toe [banda instrumental originária do Japão].
Na escrita...
Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, e a poetisa Ana Cristina César.
A nudez é...
O mais simples e mais profundo. Às vezes é só um corpo sólido, em exposição ou abuso, outras vezes é a pele enzimática que se encontra num acordo perfeito. A nudez é a maior das contradições humanas.
Ser capa da Revista 21..
Trabalhando com o André [fotógrafo] nos seus projectos macabros e sinceros foi uma grande oportunidade. Estava cansada e só tinha dormido duas horas, mas divertimo-nos como sempre. Se resultou em ser capa da Revista 21 foi com certeza porque o nosso trabalho teve entrega. Gosto da nudez contorcida do ensaio, sem beleza óbvia. Acho que é esse o projecto do André: tirar a obviedade do nu, vestir camadas na pele exposta.
No futuro pretendo...
Abrir mais lugares de encontro, colectivizar a arte e viajar pelo mundo inteiro, sem dose nem modéstia, mesmo que seja só na ponta do lápis.
Aproveito ainda para dizer que...
Estou à disposição! E acho que é isso que falta no mundo, pessoas dispostas, que se deixem tocar, que se permitam e abram caminho. E querendo trabalhar com uma modelo que é mais que um corpo sem deixar de o ser: .
Confira o ensaio completo na edição #01 da Revista 21