Eu estava casada há mais de seis anos e vivia um casamento pleno de satisfação. Não faltava cumplicidade, amor e, principalmente, sexo. O sexo era até um ritual, todos os dias feito de forma diferente, explosiva e prazerosa. O que poderia faltar num casamento assim? Na verdade, nada. Apenas uma centelha de algo indefinido, que talvez nos unisse cada vez mais. Faltava um pouco de culpa.
Era essa, bandida, que havia unido casais ao longo de séculos, que mantinha maridos mais generosos e compreensivos e mulheres ainda mais submissas. A culpa, invisível aos olhos tolos, era simplesmente um componente essencial para prolongar o casamento. Entrei na Internet à procura de algo que me fizesse sentir assim. Um namorisco, talvez? Já havia feito isso antes: flertava, incentivava, trocava e-mails picantes, mas na última hora, desistia. Desta vez escolhi um homem que anunciava ter 22 centímetros de pénis. Alguém assim não é para ser levado a sério. Iria brincar, pedir para ver esse monumento pela web e depois esqueceria.
O homem dizia-se um militar rebelde. Óptimo, eu também me estava a rebelar. Conversámos, marcámos encontros imaginários, excitámo-nos por palavras e nada mais. Fiquei a pensar o que mudaria na minha vida se eu realmente provasse um caso extraconjugal. A curiosidade, muito mais que a necessidade, motivava-me a dar esse passo.
Marcámos um encontro real desta vez. Esperei-o num café. O militar era muito mais franzino do que eu esperava de alguém com essa profissão. Falava pouco, estava cheio de medo e eu a sentir-me péssima. Pensei em desistir, dar uma desculpa qualquer, mas no meu e-mail tinha sido categórica quanto a isso: seria apenas um dia, uma única vez. Era evidente que o homem estava ansioso e não deixaria escapar a caça.
Fomos ao local combinado, um quarto alugado nos arredores de Lisboa. O homem tremia muito e já era quase uma certeza que o encontro seria um fiasco. Mas um fiasco comigo? Não! Isso marcar-me-ia para sempre. Era melhor que eu tomasse as rédeas.
Comecei por acalmá-lo, dizendo que nunca ninguém saberia. Começámos a beijar-nos e eu a fazer o que sei fazer melhor, a ensinar como fazer. Estava inexplicavelmente excitada. A princípio, aqueles tímidos 22 centímetros não estavam a ser de grande utilidade, mas com paciência eu consegui realmente criar algo mágico. Sexo apenas por prazer, sem sentimento de amor envolvido, sem obrigação de fazer o que eu já sabia que o meu parceiro gostava ou quanto tempo ele aguentaria antes de se vir. Sexo às escuras, como todo o sexo deveria ser.
Regressei a casa a tempo de fazer o jantar e esperar pelo meu marido. A noite com ele foi incrível e fizémos amor como nunca antes. O meu marido, muito satisfeito, disse-me que eu era uma mulher espectacular e a cada dia ficava melhor. Não me sentia culpada por ter experimentado sexo com outro homem, mas sim por realmente não precisar de mais sexo do que o que tinha. Talvez por isso, e apenas por isso, o prazer tenha sido menor que a culpa.
Por: Detinha Avelino
Detinha Avelino é uma escritora brasileira, residente em Lisboa. Escrevendo em espanhol, publicou os livros Seduzca Me, de contos românticos e eróticos, e Pequeña Y Rara, onde relata engraçadas e problemáticas passagens do dia-a-dia. Os seus livros podem ser encontrados em detinhaavelino.bubok.es.
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Crónica publicada na edição #03 da Revista 21