domingo, 21 de Julho de 2013

Opinião: O Pistoleiro (Stephen King)



Título O Pistoleiro (A Torre Negra - Livro 1)
Autor Stephen King
Edição Bertrand Editora
Título Original The Gunslinger (The Dark Tower)
Tradução Rosa Amorim
Género Western / Ficção Científica / Literatura
Páginas 216 | PVP 16,60 €
Ano 2013 | Original 1982
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«O homem de negro fugiu pelo deserto e o pistoleiro foi no seu encalço.» Esqueçam Moby Dick, David Copperfield ou Cem Anos de Solidão. Esta sim, é uma das melhores introduções de sempre. Numa única frase, os três elementos essenciais: protagonista, antagonista e objectivo. E, claro está, uma imagem tão forte que nos aguça desde logo a curiosidade, tranportando-nos para um qualquer Velho Oeste.

Confesso que na verdade já a conhecia, e até que no seu original, em inglês, a frase tem maior impacto e cria um mais belo efeito. «The man in black fled across the desert, and the gunslinger followed.» Já a conhecia porque me considero um grande admirador do trabalho de Stephen King. Tive já a oportunidade de ler uma grande fatia dos seus livros, a maioria dos quais pertencentes a edições antigas do Círculo de Leitores, e considero-o um dos melhores contadores actuais de histórias do mundo. No entanto, e por estranho que possa parecer, ainda mais tratando-se daquela que o próprio autor considera a sua magnus opus, nunca me tinha chegado à frente para ler um único dos oito volumes que constituem a saga «A Torre Negra». Até agora.

Ao ler O Pistoleiro, a primeira coisa que notei foi a diferença para com o estilo habitual de King. A prosa é mais trabalhada, menos natural, quase poética. Por outro lado, o livro foi escrito algures entre 1978 e 1981, uma época que, embora particularmente criativa, viu o autor imerso em inúmeros problemas relacionados com o consumo de droga. Nota-se que King utiliza essas experiências para as suas descrições sensoriais.

A história é de difícil categorização. Um western de ficção científica com pitadas de terror, talvez? Parece estranho, mas o certo é que funciona. Claro que os fãs de obras como Misery, Carrie ou The Shining poderão sentir-se de início um pouco perdidos, mas é uma questão de manter a mente aberta. Afinal, Stephen King nunca foi propriamente um autor que gostasse de se manter preso a um único género ou estilo narrativo.

Tal como a introdução revela, o enredo centra-se num misterioso pistoleiro que persegue um ainda mais misterioso homem de negro através de um deserto que, tendo evidentes semelhanças com os do Velho Oeste, se encontra algures numa dimensão paralela à nossa. A história é constituída por cinco partes, cada uma das quais um conto individual que King reuniu para formar um livro. A primeira, na qual o pistoleiro ― o seu nome é Roland, mas prefiro tratá-lo por «pistoleiro» ― recorda a sua passagem pela pequena cidade de Tull, é uma das minhas favoritas. Gosto menos da segunda e terceira, mais atmosféricas, menos envoltas em acção, não obstante seja aí introduzido o pequeno Jake, um dos personagens centrais do enredo, mas a quarta e quinta garantem um grande final. Os flashbacks sobre a infância do pistoleiro são particularmente bem conseguidos, assim como o desenvolvimento da (bastante relevante) relação entre este e Jake.

Como referi acima, foi o primeiro livro d’«A Torre Negra» que li, e não sei o que acontecerá nos próximos, mas considero O Pistoleiro um primeiro volume bastante auspicioso, que embora deixe sem resposta várias questões, funciona perfeitamente como livro individual. Da minha parte, fico bastante satisfeito com esta aposta da Bertrand Editora e faço votos para que continuem a publicar a saga. Pretendo lê-la por ordem cronológica de acontecimentos, pelo que não me interessa, para já, A Lenda do Vento, mas fico a aguardar, ansioso, pela publicação de um próximo volume.

Uma última nota para a capa, que considero fantástica. Reconheço que sejam «apenas» imagens do Shutterstock, um popular banco digital de imagens, e que na maioria dos casos essas imagens resultam em capas desinspiradas e pouco originais, mas neste caso acho que a designer fez um óptimo trabalho e que a capa reflecte na perfeição o misterioso protagonista do livro. Apenas mais uma razão para o ler.

Texto: Tiago Matos

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