quarta-feira, 24 de Julho de 2013

Man Booker Prize de Ficção 2013: Long List


«O júri da edição de 2013 do Man Booker Prize de Ficção anunciou esta terça-feira os 13 romances seleccionados para “long list” deste ano, que em Setembro será reduzida a uma “short list” de seis obras. O livro vencedor será anunciado em Outubro e o respectivo autor receberá 50 mil libras (cerca de 58 mil euros). A maior parte dos títulos seleccionados já está nas livrarias, mas alguns só serão lançados em Agosto ou Setembro.

Para o presidente do júri, o escritor de viagens Robert Macfarlane, esta é “a mais diversificada long list da história do prémio”, não apenas pela multiplicidade das origens geográficas dos autores escolhidos, mas também no que respeita à forma, ao tema e ao período em que decorre a acção de cada um deles. “Estes 13 romances notáveis vão do tradicional ao experimental, do I século d.C. ao presente, de cem páginas a mil, e de Xangai a Hendon [um subúrbio de Londres]”, comentou Macfarlane.

Numa lista da qual estão ausentes alguns pesos-pesados que poucos imaginavam ver afastados já nesta fase, como o prémio Nobel sul-africano J. M. Coetzee ou a canadiana Margaret Atwood, vencedora do Booker Prize de 2000 com O Assassino Cego, o que primeiro chama a atenção é, de facto, a escassa percentagem de autores britânicos. E também a relativa juventude da maioria dos seleccionados, muitos deles em início de carreira.

As obras foram anunciadas segundo a ordem alfabética dos apelidos dos respectivos autores, começando com o malaio Tash Aw, autor de Five Star Billionaire, que relata as vidas de cinco emigrantes malaios em Xangai. Nascido em Taiwan de pais malaios, Tash Aw é advogado e vive actualmente em Londres. Após o sucesso crítico e comercial da sua obra de estreia, The Harmony Silk Factory, que integrou a “long list” do Booker Prize em 2005, é hoje provavelmente o escritor malaio mais conhecido internacionalmente.

A senhora que se segue, No Violet Bulawayo, pseudónimo de Elizabeth Tshele, vem do Zimbabué e We Need No Names, que assume como narrador uma rapariga de dez anos e que tem como protagonistas um grupo de crianças, é o seu primeiro romance. Darling, a narradora, e os seus amigos inventaram um jogo em que cada um se imagina natural de um país diferente. Já a novela curta que revelou a autora, Hitting Budapest, tinha como herói colectivo um gangue de crianças de rua num bairro de lata do Zimbabué.

Com apenas 27 anos, Eleanor Catton, uma neozelandesa nascida no Canadá, é a mais nova das autoras da lista. O júri seleccionou o seu segundo romance, The Luminaries, um complexo mistério policial que tem por cenário a corrida ao ouro na Nova Zelândia de meados do século XIX. Catton tinha-se estreado em 2010 com Rehearsal (O Ensaio, na edição portuguesa), centrado nas reacções provocadas pela relação amorosa entre um professor e uma aluna do secundário.

Numa lista com poucos ingleses de gema e ainda menos autores consagrados, Jim Crace é uma dupla excepção. Tendo-se estreado há quase 30 anos com Continente (1986), Crace já vira um romance seu, Quarentena (1997), chegar à “short list” do Booker. Desta vez, o júri deixou-se convencer por Harvest, uma sombria história intemporal que tem por cenário uma aldeia inglesa.

Já Eve Harris, nascida em Londres de pai israelita e mãe polaca, poderá gabar-se no futuro de ter entrado na “long list” do Booker logo com o seu livro de estreia. The Marrying of Chani Kaufman conta a história de uma jovem judia inglesa de 19 anos que se vê compelida a aceitar um casamento arranjado com um homem que não conhece. Harris assumiu ter-se inspirado, para escrever o romance, na sua experiência como professora de um colégio londrino para raparigas judias ortodoxas.

Richard House, escritor, cineasta, professor universitário de escrita criativa e editor da revista digital Fatboy, entre outras actividades, escreveu um dos mais ambiciosos romances do ano, The Kills, uma obra épica constituída por quatro partes interligadas. Condimentado com crime e conspiração, o livro pode ser considerado um thriller político, ainda que cruze diversos géneros literários com o mesmo desembaraço com que o enredo vai cruzando continentes. House criou ainda um site onde a vida das suas personagens se estende para lá das fronteiras do livro. O autor assume que uma das suas referências é o desaparecido autor de Os Detectives Selvagens. Resta saber se é mesmo outro Roberto Bolaño ou apenas alguém que conhece bem os truques do oficio.

Nascida em Londres de pais indianos que emigraram para os Estados Unidos quando a filha tinha dois, Jhumpa Lahiri viu ser seleccionado para esta “long list” o seu segundo romance, The Lowland, um retrato íntimo da vida familiar dos emigrantes. Nomeada por Barack Obama para o comité presidencial das Artes e Humanidades, Lahiri, que é também constista, publicara em 2003 o seu primeiro romance, The Namesake (O Bom Nome na edição portuguesa), que foi adaptado ao cinema por Mira Nair (em Portugal, o filme foi distribuído com o título O Bom Nome).

Contista, romancista e ensaísta, Alison MacLeod passou esta primeira triagem do Booker com Unexploded, o seu terceiro romance, cuja acção decorre em 1940. Como outros romances seleccionados, só chegará às livrarias em Setembro, mas a editora, a Hamish Hamilton, inicia assim o resumo do respectivo enredo: “Geoffrey and Evelyn Beaumont, e o seu filho de oito anos Philip, aguardam ansiosamente notícias do esperado desembarque inimigo nas praias de Brighton”. O pequeno Philip, ficamos ainda a saber, está especialmente preocupado com os rumores de que Hitler pretende instalar o seu quartel-general em Inglaterra no Pavilhão Real de Brighton.

Nascido em 1965, em Dublin, Colum McCann tem já uma respeitável bibliografia, iniciada em 1994 com Fishing the Sloe-Back River, e é um dos mais traduzidos autores irlandeses actuais. Professor de escrita criativa e colunista de jornais europeus e americanos, chega agora à “long list” do Booker com Transatlantic, que parte de um episódio histórico: o primeiro voo transatlântico sem escala, realizado pelos aviadores britânicos John Alcock e Arthur Whitten Brown, que descolaram da Terra Nova no dia 14 de Junho de 1919 e chegaram no dia seguinte a Connemara, na Irlanda. Não é a primeira vez que McCann evoca na sua ficção um episódio histórico revelador de bravura pessoal: o seu anterior romance, Let the Great World Spin (Deixa o Grande Mundo Girar na edição portuguesa), lembra a façanha de Philippe Petit, que em 1974 caminhou sobre um cabo estendido entre as Twin Towers de Nova Iorque.

Almost English, o romance de Charlotte Mendelson que integra esta lista, deverá sair já em Agosto, na Mantle, que aguça a curiosidade com esta descrição: “Num exíguo apartamento londrino, Marina, de 16 anos, vive com a sua mãe, Laura, de sensibilidade delicada, e três idosos parentes húngaros”. Marina, prossegue a nota, “sabe que tem de escapar”. O livro é provavelmente inspirado nos avós maternos da autora, que a própria descreve como sendo “falantes de húngaro-checos-ruténios durante cerca de dez minutos-Cárpatos-impossíveis de descrever”. Almost English é já o quarto romance de Mendelson, que se estreou em 2001 com Love in Idleness.

Para servir de exemplo do cosmopolitismo desta “long list”, ninguém melhor do que Ruth Ozeki, autora de A Tale for The Time Being, uma vasta metaficção que inclui apêndices, bibliografia, notas e citações de mestres zen. Canadiana-americana com mãe japonesa, Ozeki é também realizadora e mestre de budismo zen.

Com 36 anos, o irlandês Donal Ryan não se apressou a publicar o seu primeiro romance, The Spinning Heart, mas talvez tenha feito bem em esperar pelo momento propício. O livro entusiasmou a crítica e Donal Ryan é já considerado uma das mais prometedoras vozes da nova ficção irlandesa. E os leitores portugueses poderão ler com particular interesse este livro que retrata a Irlanda pós-colapso financeiro, tal como é vista pelas diferentes perspectivas de 21 habitantes de uma cidade rural do sul país.

A fechar a lista, outro irlandês, o ficcionista, dramaturgo e crítico literário Colm Tóibin, que tem já vários romances traduzidos em português. Frequentemente referido como possível candidato ao Nobel da Literatura, Tóibin publicou o seu primeiro romance, South, em 1990, e é uma presença habitual nas listas do Booker: O Navio Farol de Blackwater (1999) e O Mestre (2004), uma biografia ficcionada de Henry James, chegaram à “short list”, e Brooklyn foi seleccionado para a “long list” em 2009. Tóibin compete este ano com O Testamento de Maria, já publicado em Portugal pela Bertrand, romance em que assume o ponto de vista da mãe de Jesus Cristo, pondo-a a contar uma história bastante diferente da que se deduz do relato dos evangelistas.»

Via Público.

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