Revista 21

Aos 88 anos, o que mais surpreende na escrita de Urbano Tavares Rodrigues é mesmo a sua jovialidade. A forma desprendida e despretensiosa como se contém na linguagem, mantendo-a simples e fluida, faz até lembrar um pouco o italiano Andrea Camilleri, que, curiosamente, também já não é nenhum jovem.

Urbano desdobra-se desta forma em personagens e realidades, nem sempre ligadas entre si, nas duas novelas que constituem a sua nova obra: Escutando o Rumor da Vida seguido de Solidões em Brasa.

Em Escutando o Rumor da Vida temos uma rede de contactos inicialmente centrada num cineasta de nome Francisco Medeiros, mas que se expande depois por uma panóplia de outros personagens, alguns bastante caricatos, até nos acabarmos por perder nas suas vidas. Solidões em Brasa segue a mesma estrutura, mas de uma forma menos linear e dando mais atenção à sobrenaturalidade da vida.

No geral, são duas histórias trágicas, com muito sexo, uma pitada de loucura e alguns personagens particularmente envolventes, que talvez merecessem mais espaço para brilhar, como Teresa Cordovil ou Júlio Travanca. Ainda assim, uma obra geralmente bem desenhada, que se lê num sopro.

Texto: Tiago Matos


Artigo publicado na edição #11 da Revista 21