domingo, 13 de Outubro de 2013

Opinião: Pro Evolution Soccer 2014


O árbitro apita para o início do jogo e não é que temos uma autêntica revolução no mundo do Pro Evolution Soccer? Continue a ler para saber se isso é bom ou mau.  

Texto: Tiago Matos

Eu confesso. Sou um grande fã de Pro Evolution Soccer. Passei horas e horas a jogá-lo. Conheço-o desde os tempos do velhinho International Superstar Soccer que, do alto do seu limitado conjunto de selecções não-licenciadas, me parecia, na altura, o melhor que um videojogo de futebol alguma vez poderia atingir.

Claro que, mais tarde, e especialmente após o lançamento de ISS Pro Evolution, haveria de dar o dito por não dito. Este já trazia clubes, ainda que apenas disponíveis no seu novo e revolucionário modo: a Liga Master. Depois veio a PlayStation 2. Perdeu-se o «ISS», mas manteve-se a «Evolution». Ganhou-se o PES.

Foi ano após ano a trabalhar grafismos, mecânicas de jogo, a comprar licenças de ligas, clubes e jogadores. Mais alguém se recorda com saudade de PES 2010, um dos jogos de futebol mais divertidos de sempre? Na verdade, parece-me que não terá havido série de videojogos que se sentisse mais à vontade na primeira geração das consolas de 128 bits. Menos pacífica foi a passagem para a segunda.

PES 2011 marcou a renovação. Tinha uma visão, não se lho pode negar, mas falhou em pontos cruciais ao mexer com os fundamentais da jogabilidade. No entanto, acabou por servir de base ao superior PES 2012, e ao quase perfeito PES 2013. O problema é que nem sempre as vendas acompanharam a qualidade.

O principal rival, o FIFA, ganhou o domínio do mercado, conquistando uma geração. As lealdades dividiram-se. Em cada jogador parece agora haver um fã de PES ou um fã de FIFA, como se não houvesse espaço para os dois. Eis que o PES decide que é hora de mudar. Agitar as águas. Outra vez. E eis que chegamos à sua edição de 2014. E também ao facto de eu ter terminado o meu primeiro dia de jogo a pensar: «Pronto, agora é que deram cabo do meu PES...»

Mas vamos por partes.



O jogo sofreu, talvez, uma das suas maiores revoluções de sempre. Percebemo-lo logo nos menus, mais simples, intuitivos, funcionais. A quantidade de ligas e competições disponíveis também recebeu um upgrade, com as ligas argentina e chilena a juntarem-se às de Portugal (apenas Benfica, Braga, Paços de Ferreira e Porto devidamente licenciados este ano), Inglaterra, França, Holanda, Itália, Espanha e Brasil (fora as ligas fictícias e restantes clubes licenciados). E desta vez o «disponíveis» é mesmo a sério, já que é possível jogar com todos os clubes, sem restrições, no modo amigável, ao contrário do que acontecia em edições anteriores com os da Copa Santader Libertadores.

Também os modos Liga Master e Rumo ao Estrelato receberam estas pequenas grandes melhorias na funcionalidade. Já não é obrigatório gravar automaticamente sempre que terminamos um jogo, e as (extremamente desnecessárias) cutscenes do passado desapareceram sem deixar rasto. Foi deixado apenas o essencial, de modo a que nos possamos concentrar no que realmente importa: o jogo.

Dito isto, claro que não deixaram de ser implementadas algumas novidades pelas quais há muito os fãs da série salivavam. Desde logo, já não somos forçados a iniciar a nossa carreira de Rumo ao Estrelato no SC Cambuur (ou coisa que o valha); é-nos agora permitido escolher a liga onde desejamos começar. E quanto à Liga Master, podemos finalmente mudar de clube (ou até sermos convidados a treinar uma selecção nacional), mediante os resultados alcançados no nosso clube original.

Também o modo de edição de jogadores recebeu uma renovação (existem finalmente barbas decentes e voltamos a poder usar as meias completamente para baixo, mas continua a não existir tatuagens), mantendo, contudo, o bom nível de sempre. Foi ainda adicionada uma interessante (embora complexa) componente emotiva a todos os jogadores, que os faz jogar melhor ou pior consoante a sua motivação.



Mas, se é assim, porque me causou então o jogo uma tão má primeira impressão?

Simples. Porque, mais ou menos ligas e licenças, mais ou menos novidades contextuais, o sucesso do PES sempre se fez no campo. E o choque foi grande quando joguei o meu primeiro encontro.

Desde logo, os gráficos são claramente inferiores aos das edições anteriores. Já nem falo nas inúmeras likenesses que se perderam (apesar de ser duro olhar para o Luisão do Benfica com cabelo e barba), mas das que, ainda existindo, estão a um nível muito inferior do que o PES já nos habituou (o Cristiano Ronaldo, por exemplo, vê-se mais loiro que o Fábio Coentrão). Também a nível de movimentos se diluíram as excentricidades únicas de alguns jogadores. Em alguns estádios (por falar nisso, já não é possível criá-los, e em Portugal só resta o da Luz) e em certas alturas do dia (por falar nisso, deixou de haver chuva durante os jogos), o grafismo torna-se tão básico que faz lembrar o do velhinho This Is Football (alguém se lembra?).

E que dizer da jogabilidade? Os passes difíceis de direccionar (especialmente os de desmarcação), os jogadores demasiado passivos, o tempo que se leva a dominar uma bola, o inacreditável atabalhoamento do meio-campo... Claro que se pode sempre alegar que tudo isto vem trazer mais realismo ao jogo. Afinal, num jogo de futebol a sério, os jogadores vão com frequência uns contra os outros, e na maioria das vezes as jogadas não saem tão «perfeitas» como eles querem. No entanto, se eu quisesse realismo, calçava umas chuteiras e telefonava a uns amigos para combinar uma futebolada. O que procuro num jogo não é realismo. É entretenimento.

Até porque há mais. Os guarda-redes, muitas vezes mal batidos por mau posicionamento na baliza, transformam-se em super-heróis a defender remates de longe. Alguns árbitros punem os toques mais subtis com cartões. O famoso catch-up bug do PES 2012 retornou em força, com os mais lentos defesas a partirem largos metros de trás para alcançarem com a maior das facilidades os avançados que conduzem a bola. E quando há tanta gente na área que o jogo «emperra», congelando por milésimas de segundos o ecrã?

Ah, e nem me façam falar das «setinhas» a ajudar os cantos e livres...

PES 2014 traz algumas novidades interessantes à jogabilidade, como novas fintas (que, por azelhice, raramente sou capaz de fazer), lances estudados e movimentos individuais, mas, no geral, fiquei desiludido com a mecânica de jogo.



Permitam-me repetir isto: «fiquei» desiludido. Pretérito perfeito. Do género: já não estou.

A verdade é que me recusei a aceitar que a Konami tinha lançado um jogo assim tão mau. Por isso insisti. Jogo após jogo, hora após hora, dia após dia, habituei-me às novidades. Aliás, risque-se o «habituei-me», que pode implicar conformidade. Não me conformei com o jogo, aprendi a jogá-lo. Como se fosse o meu primeiro. E não é que, surpreendentemente, aprendi a gostar de o jogar? Aliás, no momento em que escrevo esta opinião, considero-o tão viciante como os melhores.

Parece-me que a conclusão a retirar daqui é que, se é certo que a curva de aprendizagem de PES 2014 é um pouco maior que o habitual, também o é que a sua complexidade faz dele um desafio constante. E isso é bom. Muito bom. Um pouco de paciência e torna-se impossível voltar atrás. Ou, nas palavras de Fernando Pessoa, «primeiro estranha-se, depois entranha-se».

Ao menos não é uma simples actualização de plantéis. Já experimentaram o FIFA 14?!

Claro que PES 2014 não deixa de ser um jogo «a melhorar», e até a própria Konami tem noção disso, ou não tivesse já anunciado um patch que corrigirá os erros mais incómodos que referi acima, mas, à semelhança do imperfeito PES 2011, demonstra uma visão muito específica do que pretende para o seu futuro. Nesse sentido, estou muito curioso para perceber como serão as próximas edições.

Entretanto, divirto-me com esta. Será porventura essa a maior prova de que, afinal, também não foi este ano que me deram cabo do PES.




PRO EVOLUTION SOCCER 2014
Para: PlayStation 3, PlayStation 2, PSP, Xbox 360, Nintendo 3DS e Microsoft Windows

GRÁFICOS: 7
Abaixo dos habituais (altos) padrões do Pro Evolution Soccer. Para além das likenesses que se perderam, os jogadores surgem invulgarmente pouco polidos em campo.

SOM: 7
Os comentários continuam enfadonhos e o ambiente sonoro dos estádios podia (e devia) ser bem melhor. Quanto à banda sonora, é extremamente curta e repleta de música clássica, mas pode-se, como sempre, adicionar as nossas próprias músicas.

JOGABILIDADE: 9
De início, nada sai bem e tudo parece demasiado complicado. Os passes falham, os jogadores colidem uns com os outros, a bola demora uma eternidade a dominar. Contudo, algumas horas de jogo em cima e começamos realmente a apreciar as subtilezas de algumas das alterações.

INOVAÇÃO: 9
PES 2014 marca uma autêntica revolução na série. Os principais modos continuam lá, a forma de os jogar é que muda. No geral, a experiência é outra.

REPLAY: 9
O que seria um PES sem a garantia de horas e horas de jogos, com ou sem amigos por perto?

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