É um dos mais emblemáticos – e temperamentais – realizadores do mundo, um homem que respira cinema e parece ter sido feito de e para a sétima arte. Conheça Quentin Tarantino, o génio «alucinado» mais adorado de Hollywood!
Texto: Tiago Matos
Histórias tristes
A história de Quentin iniciou-se a 27 de Março de 1963, em Knoxville, no Tennessee. Abandonado pelo pai ainda antes de nascer, foi criado pela mãe, uma descendente de irlandeses e índios cherokee, que serviu de primeira musa para a sua invulgar criatividade. «Ele costumava escrever-me histórias tristes no Dia da Mãe, onde me matava e dizia o quanto se sentia mal com isso», recorda a sua mãe.
Escola de Kung Fu
Na escola, sentia problemas. Era disléxico, hiperactivo e passava o tempo a ver filmes de Kung Fu em vez de estudar. «A única disciplina que me agradava era História, porque era mais ou menos como nos filmes», refere.
Cinema pornográfico
Aos 15 anos, desistiu dos estudos e, mentindo na idade, arranjou emprego como assistente num cinema pornográfico. Não era o ideal, mas ajudava-o a estar mais próximo do cinema.
Video Archives
Aos 22 anos, foi trabalhar para um clube de vídeo de Los Angeles chamado Video Archives: «Eu vivi lá durante anos. Quando terminava o expediente, nós fechávamos a loja e ficávamos por lá a ver filmes a noite inteira». Por «nós», Quentin refere-se a pessoas como Roger Avary, Josh Olson ou Daniel Snyder, empregados ou frequentadores habituais do clube, que mais tarde viriam a obter sucesso como argumentistas, produtores e realizadores.
Argumentos
Inevitavelmente chegou o dia em que Quentin decidiu que sabia tanto sobre filmes que era altura de fazer um. Em pouco tempo escreveu os argumentos de True Romance, Natural Born Killers e Reservoir Dogs. Vendeu os dois primeiros e, através dos conhecimentos entretanto ganhos na indústria, conseguiu financiamento para realizar o último.
Primeiro filme
Reservoir Dogs foi uma autêntica pedrada no charco que deixou perplexos os críticos de cinema em todo o mundo. Eis que surgia do nada um jovem desconhecido e sem formação que, com um orçamento irrisório ao seu dispor, realizava um dos filmes do ano.
Escola de cinema
Por falar em formação, Quentin desvaloriza a sua necessidade: «Nunca frequentei uma escola de cinema. Frequentei o cinema».
Blockbusters
Pediram-lhe que se mudasse para Hollywood e pegasse em potenciais blockbusters como Speed e Men in Black, mas Quentin, fiel ao espírito do cinema independente, tinha outros planos. Levou o ex-colega Roger Avary para Amesterdão e, juntos, terminaram o argumento de Pulp Fiction, iniciado ainda no Video Archives.
Pulp Fiction I
Avary recorda: «Disseram-nos que era a pior coisa alguma vez escrita. Sem sentido, demasiado longa, violenta e impossível de filmar». Ter-se-ão certamente arrependido quando Pulp Fiction estreou, vencendo o Óscar de Melhor Argumento e sendo nomeado para outros seis.
Pulp Fiction II
Pulp Fiction também foi um sucesso comercial, rendendo mais de 200 milhões de dólares em todo o mundo. «Percebi na altura que nunca mais teria de procurar emprego ou preocupar-me em pagar a renda. Realizar Pulp Fiction permitiu-me viver por completo a vida de um artista», refere Quentin.
Artista irritável
Seria precisamente com a irascibilidade de um artista que haveria de irromper, meses depois, num restaurante, para esmurrar um dos produtores de Natural Born Killers, exigindo que o seu nome fosse retirado do projecto, por não aprovar as alterações feitas por Oliver Stone no seu argumento.
Diálogos de prisão
Outras brigas públicas e algumas passagens pela prisão atestam o feitio conflituoso de Quentin: «Estive três vezes preso por causa de multas, mas até não foi mau. Ajudou-me a descobrir novos diálogos».
Teatro na Broadway
Em 1997, realizou a sua terceira longa-metragem, Jackie Brown, um tributo aos filmes clássicos de blaxploitation, e a seguir fez uma inesperada pausa na realização para se concentrar em outra das suas grandes paixões: a actuação. Entrou numa produção teatral da Broadway, mas o resultado não foi positivo: «As críticas sucederam-se e eu tentei não as levar a peito, mas eram pessoais. Não tinham nada a ver com a peça, eram sobre mim, e a certa altura fartei-me».
Uma Thurman
A grande mulher por trás do grande homem Quentin Tarantino é a actriz Uma Thurman. Amigos desde as filmagens de Pulp Fiction, foi ela que o encorajou a criar um filme baseado nos clássicos de Kung Fu que costumava assistir em criança. Quentin não se esqueceu e, como presente, ofereceu-lhe 30 páginas do guião que preparava e que, anos mais tarde, viria a ter o nome de Kill Bill.
Os pés de Uma Thurman
Mais que um êxito de bilheteiras, Kill Bill foi uma nova oportunidade para Quentin trabalhar com a mulher que chama de musa da sua carreira, e até de incluir no filme um novo - e longo - close-up dos seus pés, ou não fosse ele um podólatra assumido.
Mais filmes
Dois volumes de Kill Bill depois, seguiu-se Grindhouse, um tributo às sessões duplas de cinema, populares nas décadas de 30 e 40. Já em 2009, realizou Inglourious Basterds, cuja ideia nasceu graças à sua simpatia escolar por História. Nomeado para oito Óscares, Basterds foi o seu filme mais rentável.
Despedida
Quentin permanece, contudo, com os pés bem assentes na terra, e chega já a antecipar a sua despedida cinematográfica: «Retiro-me quando fizer 60 anos. Acho que é uma boa idade para parar de fazer filmes. Posso começar a escrever livros e críticas de cinema, tornando-me um homem das letras. E talvez possa finalmente ter uma família».
Relações amorosas
Solitário por natureza («Estive sozinho a maior parte da minha vida. Fui filho único, criado por uma mãe solteira, e por isso sinto-me muito confortável com a minha própria companhia»), teve, contudo, muitas mulheres apontadas pela imprensa como suas namoradas ao longo dos anos, entre as quais Mira Sorvino e Sofia Coppola.
Celibatário
Por enquanto, garante-se fiel ao celibato: «Não digo que nunca casarei ou terei um filho antes dos 60, mas por agora sigo a minha escolha de percorrer este caminho sozinho, porque é a minha altura de fazer filmes».
Melhor amigo
O melhor amigo de Quentin é o realizador Robert Rodriguez. Os dois conheceram-se no Festival de Cinema de Toronto, em 1992: «Eu estava lá com o Reservoir Dogs e ele com o El Mariachi. Encontrámo-nos num corredor e ficámos literalmente a conversar durante cerca de 25 minutos, sem interrupções». Desde aí, foram diversas as colaborações cinematográficas entre ambos (From Dusk Till Dawn, Sin City, Grindhouse).
Django Unchained
O novo filme de Quentin chama-se Django Unchained e é um western que narra a história de um escravo recém libertado que se junta a um caçador de cabeças alemão para encontrar a sua mulher. Conta com Leonardo DiCaprio, Jamie Foxx e Christoph Waltz e estreia a 27 de Dezembro em Portugal.
Artigo publicado na edição #14 da Revista 21
1 comentários:
Excelente artigo!
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