Título A Dominadora
Autor Ana C. Cruela
Edição Lua de Papel
Género Não-Ficção
Páginas 184 | PVP 14,90 €
Ano 2013
Sinopse aqui
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Autor Ana C. Cruela
Edição Lua de Papel
Género Não-Ficção
Páginas 184 | PVP 14,90 €
Ano 2013
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Oh, não, já não há pachorra. Mais um livro de sexo sadomasoquista a aproveitar-se do incrível sucesso de As Cinquenta Sombras de Grey. Certo?
Errado.
Pelo menos em parte. Em A Dominadora, da conimbricense Ana C. Cruela, até se encontra muito sadomasoquismo. No entanto, e apesar de poder ser uma surpresa para muita gente, o sexo não assume de todo o papel principal.
Uma breve contextualização, quase em jeito de mea culpa: eu não li As Cinquenta Sombras de Grey. Posso, por isso, incorrer em algum erro ao estabelecer a conclusão que se segue, mas tenho a impressão que é um livro cujo tema central é sexo. Que por acaso calha a ser de estilo BDSM. Ora, o que quero dizer é que em A Dominadora é precisamente ao contrário. O tema central é o BDSM e, só por acaso, calha a haver sexo.
Por outro lado, enquanto As Cinquenta Sombras de Grey e as centenas de spin-offs não-oficiais que daí advieram são geralmente obras de ficção sustentadas em romances, A Dominadora é uma história real, desprovida de enredo, que funciona mais como um guia de introdução ao mundo do BDSM (adaptado, em particular, à realidade portuguesa) que como uma narrativa capaz de deixar as senhoras mais emotivas a suspirar e/ou transpirar.
Quero com isto dizer que A Dominadora corre o risco de defraudar as expectativas dos habituais leitores (ou, sejamos francos, leitoras) do género, ao assumir-se como uma abordagem mais adulta e honesta ao BDSM. Mas claro, aqueles que achem piada à coisa ou não se importem de passar algum tempo (pouco, o livro lê-se num instante) a espreitar a vida de uma verdadeira dominadora cá do burgo, vão nele encontrar um trabalho interessante, bem escrito e impecavelmente editado.
Mas vamos por partes.
Ana C. Cruela não é uma protagonista fácil. Desde logo, é demasiado sincera para seu próprio bem. Para além dos jeitos naturais de dominadora que por vezes transparecem para as palavras escritas com uma certa arrogância, o politicamente correcto não é de todo com ela. Temos, por exemplo, referências a sexo casual sem preservativo, exigências físicas superficiais tidas como imprescindíveis numa relação e até downloads ilegais. Existirão decerto muitos, como eu, a aplaudir esta honestidade, mas também me parece que não faltarão virgens ofendidas a criticá-la por não serem capazes de se identificar com a protagonista.
E sim, não me escapou o aparente contra-senso que é destacar a capacidade da autora se expor quando, na prática, escreve sob pseudónimo e se esconde por trás de uma máscara.
Ana narra, numa série de episódios, a sua iniciação e consagração no mundinho íntimo dos chicotes e das roupas de cabedal, mas não se coíbe de explanar também um pouco sobre as suas origens e relações privadas. Conta-nos, por exemplo, como se sentiu atraída por uma exposição de instrumentos de tortura aos doze anos e como, ainda antes disso, estabelecia, sem o realmente saber, relações de submissão e dominação com as bonecas com que brincava.
Um destes outros capítulos «contextuais» é o meu preferido de todo o livro, e curiosamente está ainda mais afastado de sexo (pelo menos à primeira vista) que os anteriores. Confessa Ana nestas páginas que, na esperança de a ensinar a fazer uma alimentação saudável, os seus pais a proibiam de comer doces quando era pequena. E claro, como acontece quase sempre que algo nos é vedado, Ana viu aguçado ao extremo o seu desejo pelo fruto (leia-se «doce») proibido, o que mais tarde se veio a manifestar em sérios problemas de peso. O paralelismo com o tabu do BDSM é por demais evidente, mas a escrita deixa-o apenas implícito, ao entender de cada leitor.
Por outras palavras, está bem escrito.
De referir, no entanto, que se é verdade que gostei do livro, também o é que A Dominadora não foi capaz de me fazer interessar pelo BDSM. Compreendo que todas as pessoas tenham, no seu âmago, qualquer coisa de dominador ou de submisso, e aceito que haja lugar à prática de todo o tipo de actividades íntimas desde que consensuais e não lesivas a terceiros, mas a nível pessoal não me consigo identificar como fã das práticas que Ana descreve. Ainda assim, considero que o livro é uma excelente fonte de conhecimento, nem que seja apenas para esclarecer que BDSM não implica, por si só, sexo. Vale a pena.
Texto: Tiago Matos
4 comentários:
parece interessante.... vou comprar...
Por acaso parecia pela capa, mas se realmente não é mais uma imitação do 50 Shades até sou capaz de ler.
Gosto muito que seja um livro com uma mulher dominadora. Normalmente são sempre as submissas.
Parece-me bem mas acho que a escritora devia dar a cara...
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