Os cães e gatos fazem-no. As borboletas também. Mas apenas os famosos lucram com sexo. Explore connosco a evolução sexual das celebridades.
Texto: Tiago Matos
No início, a discrição era a lei. Em Hollywood imperava o Código de Produção e, na cabeça da maioria das pessoas, o sexo era ainda um tema tabu. As celebridades da época comportavam-se segundo estes padrões, vendendo implicitamente sexo nos seus trabalhos artísticos, mas raramente o discutindo em praça pública.
A Revolução Sexual viria a mudar tudo, com a chegada de ícones como David Bowie, que através do seu arrojo e extravagância, ajudaram a tornar a sexualidade um assunto mainstream.
Em 1972, o cantor revelou-se publicamente bissexual, e continuou a chocar o mundo com acções como a simulação de sexo oral numa guitarra durante um concerto, ou a confissão de que conheceu a sua primeira mulher enquanto ambos faziam amor com o mesmo homem.
Tudo isto contribuiu para que Bowie se tornasse o grande porta-voz da revolução sexual, ajudando ainda à massificação da «extroversão» das celebridades, já que, atenta ao potencial lucrativo do sexo, a indústria do entretenimento passou a encorajar os artistas a uma maior exposição.
«Sex sells» era a expressão da ordem, e permaneceu assim até que, com o início dos anos 80, a epidemia da SIDA e o preocupante nú-mero de casos de gravidez juvenil vieram refrear o entusiasmo sexual das pessoas.
Subitamente, deixou de ser bem aceite o exagero, e celebridades como Lou Reed, Mick Jagger e David Bowie chegaram a renunciar a bissexualidade e os comportamentos de risco anteriormente assumidos. O mesmo Bowie que popularizara a libertação sexual dizia agora ter vivido durante anos num mundo de fantasia, já que, na verdade, nunca fora gay nem bissexual, apenas lhe interessara a transgressão moral dos costumes.
Era, por isso, necessário um novo «herói» que utilizasse o sexo como bandeira e liderasse como exemplo uma nova revolução. É então que surge Madonna.
EROTICA
Usando a luxúria, a irreverência e a polémica a seu proveito, tanto na música como no cinema, Madonna tornou-se uma estrela. «Sei que não sou a melhor cantora nem a melhor dançarina, mas sei atiçar as pessoas e ser provocativa. O meu objectivo é quebrar tabus inúteis», confessou na antecipação da famosa digressão Blonde Ambition, na qual, entre outras coisas, se simulava masturbar em palco.
Seguiram-se os videoclips arrojados, com cenas de nudez, bondage e sadomasoquismo, o documentário Truth or Dare, no qual simulava sexo oral numa garrafa, o álbum Erotica, primeiro a ter uma mensagem de Parental Advisory afixada na capa, e o livro Sex, que continha imagens da cantora nua e a simular diversos actos sexuais.
A exploração pública da sua intimidade conferiu-lhe um estatuto icónico e contribuiu substancialmente para que, tal como se propôs de início, fossem quebrados muitos dos tabus sexuais em vigor. É evidente que Madonna não o fez sozinha, mas é um facto que, depois dela, a prática de formas de sexualidade alternativas ganhou uma maior aceitação.
A homossexualidade, em particular, passou a ser recebida com maior naturalidade pela sociedade, como se verificou, nessa altura, pela «saída do armário» de artistas tão populares como Ellen DeGeneres ou Elton John. Também na moda, as publicidades da Calvin Klein começaram a promover tendências sexuais alternativas.
Kurt Cobain, ex-vocalista dos Nirvana e um dos músicos mais influentes de sempre, deixou bem assente o espírito da época num dos desabafos escritos no seu diário: «Não sou gay, mas desejava sê-lo, nem que fosse só para irritar os homofóbicos».
POKER FACE
No novo milénio, as mulheres ganharam voz predominante na área sexual. Um dos fenómenos mais verificados nos dias de hoje é o «Bisexual Chic», como lhe chamam os americanos, que consiste na massificação da bissexualidade feminina entre as celebridades.
Nomes como Angelina Jolie, Anna Paquin, Lindsay Lohan, Drew Barrymore, Carmen Electra e Christina Aguilera são exemplos da tendência. A maioria, como a cantora dos Black Eyed Peas, Fergie, assume ser mais uma curiosidade que um estilo de vida («Definitivamente já experimentei sexo com mulheres, mas nunca tive uma namorada estável»).
No entanto, existem também casos como o de Megan Fox, que ostenta a sua orientação com orgulho: «Acho que todos nascemos bissexuais, mas depois fazemos escolhas subconscientes baseados nas pressões da sociedade. Pessoalmente, não tenho a mínima dúvida que sou bissexual, mas sou igualmente uma hipócrita, porque seria incapaz de namorar com uma mulher bissexual. Isso significaria que ela também já dormiu com homens, e os homens são tão sujos que eu nunca seria capaz de dormir com ela».
Megan Fox é, aliás, bastante vocal quanto a todas as suas preferências sexuais. Na memória permanece, por exemplo, o desabafo feito acerca de Olivia Wilde, actriz da recentemente terminada série House: «É tão sexy que me faz querer estrangular um búfalo com as minhas próprias mãos». Ainda assim, segundo afirma, só teve relações com dois homens nos seus 26 anos de vida: «o meu namorado de infância e o Brian [marido], porque nunca poderia ter sexo com alguém que não amasse. A ideia enoja-me. Nunca estive minimamente perto de ter um one night stand».
Outra bissexual famosa que não tem medo de discutir a sua sexualidade é Lady Gaga. A enigmática e extravagante cantora, uma das mulheres do momento no panorama musical mundial, confessa que gosta de mulheres, «ainda que nunca tenha estado apaixonada por uma», e esclarece que «é sobre isso que a música “Poker Face” fala, sobre o facto de eu estar com o meu namorado e ao mesmo tempo fantasiar estar com uma mulher».
Lady Gaga afirma, contudo, que hoje em dia «já não é moda ter sexo o tempo todo. É muito melhor ser-se forte e independente». De facto, a arrojada cantora surpreende ao defender a abstinência, declarando que, no seu caso pessoal, «tenho a impressão que se dormir com alguém, essa pessoa me vai tirar a criatividade pela vagina». Adriana Lima e Lenny Kravitz também defendem esta «nova» tendência.
SEX TAPES
Outra das práticas mais correntes da sexualidade «famosa» envolve uma câmara de vídeo e o lançamento, acidental ou não, da resultante filmagem na Internet. Em muitos casos, estas sex tapes contribuem em larga escala para o aumento da popularidade dos envolvidos e, por isso, a partilha de intimidade acaba por ser vista como um excelente «negócio». É o passo lógico na evolução: depois de falar sobre sexo e de o vender, as celebridades mostram-no a ser feito.
Uma das primeiras a popularizar o fenómeno foi Pamela Anderson. No final dos anos 90, foram postos a circular na Internet dois vídeos caseiros que a mostravam, respectivamente, a ter relações sexuais com o ex-marido Tommy Lee e com o cantor dos Poison, Bret Michaels. A actriz canadiana acabou por se conformar com a situação, até por ter em conta que, dada a persona habitualmente sexual que exibia, os vídeos não lhe prejudicariam a carreira. Muito pelo contrário.
E se a intimidade de Pamela lhe ajudou a manter a fama, o que dizer dos vídeos de Paris Hilton e Kim Kardashian? As duas socialites, herdeiras de milhões, eram relativamente desconhecidas do grande público até os seus vídeos de sexo caseiro com os respectivos namorados as tornarem celebridades à escala mundial. 1 Night in Paris, o filme de Paris Hilton, tornou-se mesmo um dos filmes pornográficos mais rentáveis e populares de sempre.
«Eu nunca recebi um tostão pelo vídeo. É dinheiro sujo e devia ser dado a uma instituição de caridade para pessoas sexualmente abusadas ou algo assim. Para ser sincera, já nem penso nisso», referiu a socialite numa das suas últimas referências ao filme. Também Kim Kardashian considerou, mais recentemente, o seu filme uma «humilhação».
Não se pense, contudo, que só as mulheres famosas interessam ao mercado das celebrity sex tapes. Verne Troyer, actor anão conhecido por interpretar o Mini-Me na série de filmes Austin Powers, viu as suas próprias filmagens privadas com a ex-namorada Ranae Shrider divulgadas na Internet, caso que originou um processo em tribunal por invasão de privacidade e violação de direitos de autor.
Outros populares filmes caseiros incluem celebridades como Kid Rock, Scott Stapp, Fred Durst, Gene Simmons, Colin Farrell, Rob Lowe, Daniela Cicarelli, Tila Tequila, Joanie «Chyna» Laurer e até a cantora croata Severina Vučković, conhecida por publicamente promover a abstinência sexual. Uma tendência para manter?
Artigo publicado na edição #12 da Revista 21
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