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Helena Durães: A Vida num Flash


Helena Durães ficou em décimo lugar no Concurso Novos Autores - Revista 21/Bertrand. Como o próprio título indica, «A Vida num Flash» resume-nos, num estilo simples e cuidado, a vida de uma mulher em menos de 500 palavras. Um trabalho sensível e subtil. 


Em pequena, Maria sonhava com aquilo que todas as meninas sonham: um príncipe encantado, um castelo e felicidade. Na adolescência deixou de acreditar em castelos, mas continuava a querer um príncipe encantado, e, agora, também sonhava com um bom emprego. Em jovem adulta começou a perceber que nunca teria ao seu lado um príncipe encantado. No entanto, apostou tudo na sua futura vida profissional. Jurava a si mesma que nunca iria desistir e que iria ser cada vez melhor. Na fase adulta, aceitou que iria ficar sozinha e que, por mais que tentasse, não era uma boa profissional, restando-lhe, apenas, viver com isso. Não tinha nada para apostar no futuro. Resolveu olhar para trás e ver a sua importância junto dos outros. E percebeu, finalmente, aquilo para o qual estava guardada: ajudar os outros.

Desde os seus tempos de infância que quis ajudar: fazendo sorrir, quem estava triste. Conforme foi crescendo, o apoio que dava a quem tinha por amigo era ainda maior. Nunca deixou ninguém ficar para trás, partilhou de todas as brincadeiras e deu sempre o ombro, pelas mais diversas razões: fosse pelos dramas em casa, ou com os namorados (os «problemas» habituais da adolescência, pelos quais todos passam, menos ela).

Maria foi também importante para aqueles amigos que conheceu mais tarde. Fez com que eles nunca desistissem, que pudessem ter alguém com quem partilhar as suas frustrações, as suas alegrias e os seus sonhos. Esteve sempre do lado deles, por mais difícil que fosse ou por mais cansada que estivesse. Entendeu, finalmente, no trabalho, que não era como profissional que era importante, mas sim para ser a força de que os outros precisavam para continuarem a tentar alcançar os seus objectivos.

Com o passar dos anos percebeu que era esta a sua «missão». Ao longo do tempo tinha conseguido manter fortes e longas amizades, sendo esse o seu maior tesouro, sabendo que eles estavam sempre do seu lado. A sua imaginação ajudava-a, também, a passar os dias. De como seria ter alguém ao seu lado a quem pudesse encostar a sua cabeça, de ter uma casa cheia de crianças, de ser uma pessoa apaixonada por aquilo que faz todos os dias. Agora, aos sessenta anos, essa imaginação estava sempre, sempre, a trabalhar.

Naquela tarde, a senhora Maria, como agora toda a gente a conhecia, não estava nos seus melhores dias. Sentou-se na sua poltrona, virada para a janela, e olhou lá para fora. Estava um dia de sol belíssimo. O jardim estava cheio de gente, principalmente crianças que corriam de um lado para o outro e que faziam os pais correrem também. Sorriu. Tudo estava como tinha de ser. Fechou os olhos. Uma dor súbita no peito fê-la levar a mão ao seu coração. Em poucos segundos inspirou profundamente e, assim que expirou, lentamente, foi sentindo-se cada vez mais sem forças, quase como se estivesse prestes a adormecer. A verdade é que nunca mais voltou a acordar.


Texto: Helena Durães 

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