Maria Eugénia Ferreira: Flores para Adelaide
Maria Eugénia Ferreira ficou em nono lugar no Concurso Novos Autores - Revista 21/Bertrand. Apesar de «Flores para Adelaide» conter alguns erros de linguagem e estrutura, o seu enredo demonstra grande sensibilidade e imaginação. A história enquadra-se bem no contexto de mini-conto e esconde com uma subtileza apreciável um princípio e um fim para cada personagem central.
A tarde nublada, o vento e as ondas gigantescas levaram Artur ao muro do Largo, para ver o mar, pois no dia seguinte iria com os camaradas no barco Mar Picado, para uma longa ausência. Para um outro mar distante do seu para ganhar mais para si e para Adelaide, que lutava com uma tuberculose no Hospital da Cidade, perto da vila. Não tinham filhos, pois Manuel nasceu e dias depois morria.
Artur tinha tudo arrumado para poder partir, mas teria ainda que ir ao hospital despedir-se da mulher e não sabia se ao voltar a encontraria ainda com vida.
Foi na camioneta à cidade e ao chegar junto de Adelaide, que estava muito serena e com um sorriso e voz fraca, lhe perguntou:
- Estás de partida? Não te demores e vai para casa. Não te esqueças de pedir à Berta que regue as flores, para quando regressares teres algumas para mim! - Nisto voltou a ter mais um ataque de tosse com nova hemorragia.
Artur voltou para a vila. Não sem antes passar pela Taberna do Zacarias que lhe perguntou por Adelaide, ao que ele respondeu com um encolher de ombros.
A noite chegou sem vento e calma. Pensou em Raquel, uma moça estonteante, bonita, com quem mantinha uma relação amorosa no maior dos segredos. Só eles sabiam. Foi ter com ela. Jantaram e despediram-se, envolvendo-se numa noite de amor.
Chegada a madrugada, despediram-se com um longo beijo. Raquel, sem querer que ele se apercebesse, colocou-lhe no bolso da camisa quadrejada um papel, que só ela sabia o que continha.
Artur pensava em Adelaide que, sem saber, horas depois partia para sempre.
No cais juntou-se aos camaradas que vinham surgindo aos poucos e entravam no barco que os levaria para outras águas.
Todos os dias Raquel dirigia-se à praia, descalça com o terço da cor do mar nas suas mãos e Tita, a sua cadela por companhia. Deitava-se na areia e pensava nas emoções vividas com aquele homem.
Ao longe avistou o Mar Picado e, correu em direcção ao cais. Todos começaram a sair e abraçavam os seus familiares, todos menos Artur. Tita ladrava e Raquel, inquieta, procurava-o com o olhar. Alguém lhe bateu nas costas e disse: «Coitado! Não aguentou a pneumonia e acaba de morrer. Vai ali ao pé dele…»
Ela aproximou-se, daquele com quem ela viveu momentos jamais esquecidos, e sentiu que ainda estava quente. Acariciou a barriga.
No bolso da camisa do amante encontrou o bilhete que tinha escrito. «Vais ser pai.»
Junto desse estava outro escrito com a letra de Artur. «Amo-te Raquel. Não esqueças, rega as minhas flores e leva uma para a Adelaide e outra para mim.»
- Estás bem? – perguntou um dos pescadores. E ela acenou-lhe com a cabeça que sim.
Texto: Maria Eugénia Ferreira
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