Nasci há muitos, muitos anos. Não numa galáxia distante, mas aqui ao lado. Como quem vai pela Casal Ribeiro e corta na segunda à esquerda em direcção ao Arco do Cego. Há mais de dois acordos ortográficos atrás. Ainda «água» se escrevia com pH e as mulheres estavam remetidas às tarefas para que Deus (que, tirando os pretos e os indianos, não erra) as criou e designou: fazer o comer, limpar a cozinha e trazer uma cervejinha quando um gajo está ocupado com coisas importantes como é jogar FIFA online que não dá para meter em pause.
Não tive grande sorte quando os dados foram lançados. Sou parco de inteligência, vocabulário, cultura, personalidade, alheado da realidade e socialmente inapto. Safam-se as mãos e um IMC espectacular que devia mandar fazer um pin só para o efeito visual. Se vierem perguntar (não vêm) se alguma destas coisas me preocupa, direi que não. Preocupa-me sim buracos na parte de trás das meias e sapatos novos. Em conjunto ou em separado. Porque faz bolhas se um gajo tiver de andar muito a pé e, como se sabe, quando um gajo não conta andar muito a pé é quando tem de o fazer, por qualquer razão, por ser Deus a foder-nos por pontapés nos colhões que um gajo mandou no secundário para ser aceite pelos colegas só porque era o único que não tinha um skate. E como um passeio ou mesmo a vida não é um simples jogo de escondidas, um gajo não pode simplesmente «rebentar a bolha». No próximo número, espero ter patrocínios para estas tiradas de humor do bom que só ficam bem e avolumam, por si só, o número de leitores que cofia a barba e diz: «homessa, Juvenal, com essa é que me fodeste».
Disfarço da maneira que sei e que fui aperfeiçoando. Com citações de contracapa de enciclopédia, de dobras interiores de capas de papel dos livros que existe sobre a capa rija monocromática como uma manta de lã sobre uma vítima de violação ainda à chuva pouco depois da polícia chegar ou de opiniões ouvidas em análises feitas na televisão quando o telejornal dá no intervalo da bola e que se apegarão aos cérebros mais reduzidos e criarão, no mínimo, a dúvida nos de média dimensão e que acharão um «a hegemonia do ambiente político estende o alcance e a importância dos procedimentos normalmente adotados» a última Coca-Cola do deserto.
Assim sendo, e não obstante tudo o que foi escrito acima, há uma coisa que me continua a fugir à compreensão. Como é que há mulheres que não engolem e, no entanto, comem caracóis.
Felizmente, e até hoje, posso dizer que nunca andei com miúdas que não gostassem de caracóis.
Por: Juvenal
Crónica publicada na edição #16 da Revista 21
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