sábado, 14 de Dezembro de 2013

Perfil: Anonymous


Por trás da máscara e do anonimato, uma misteriosa entidade combate pela liberdade on-line de todos nós. Quer descobrir quem é Anonymous?

Texto: Mariana Carvalho

O QUE É
É uma colectividade anónima com excesso de tempo livre. Um movimento de pessoas, não uma organização terrorista. Um conjunto de cibernautas, bem ou mal intencionados, que actuam com os seus próprios dispositivos contra injustiças libertárias na sociedade.

ORIGEM
Desde sempre se pratica o que Anonymous defende. Sempre que se quer ir contra algo que não corresponde ao nosso conceito de liberdade. Sempre que se faz algo, ilícito ou não, pelo qual não se quer dar a cara nem o nome. Anonymous sempre foi praticado, consciente ou inconscientemente.

A IDENTIDADE QUE NÃO TEM
Mesmo que se pense existir uma identidade por trás deste movimento, não há. E é essa a razão de ser quem é. Para Anonymous a identidade é algo inútil, fraco e frágil. Permanece anónimo com um objectivo: poder ser qualquer pessoa com a qual nos cruzemos na rua sem que se destaque, positiva ou negativamente.

PORQUÊ A NET
Nas suas acções a favor da liberdade, a Internet é o único meio em evolução técnica constante capaz de garantir o secretismo que necessita. Os Anonymous só têm poder pelo facto de se encontrarem unidos por este meio, onde se podem expressar livremente. E a liberdade que os governos mais temem é a liberdade de expressão on-line.

A MENSAGEM
Activistas da liberdade de expressão, contra a corrupção, o capitalismo obsceno e a injustiça, sem intenções de obter reconhecimento, positivo ou negativo.

A INTENÇÃO
Fazer com que a Internet permaneça livre de qualquer controlo, entidade, governo ou corporação.

HACKERS?
Não propriamente. Podem perceber de Internet e de tudo o que envolve computadores, mas não são «apenas» hackers. Aliás, não gostam de ser conhecidos como hackers mas sim como uma «consciência viva on-line».

ANONYMOUS SOMOS TODOS
Não é um grupo fixo, nem há um líder oficial. Não há ordens específicas nem princípios unificadores. Apenas objectivos comuns, ainda que contra entidades diferentes. Todos nós podemos ser Anonymous, e em todo o mundo.

UMA DEMOCRACIA QUASE PERFEITA
Não existindo um líder, mas sendo sempre preciso alguém que comande qualquer acção, Anonymous é sinónimo de uma democracia quase perfeita, visto ser escolhido «na hora» um membro que oriente o que está a decorrer. É uma opinião momentânea e, como nada é planeado com muita antecedência, é lançado um protesto e os que estão on-line naquele momento são os comandantes e as tropas.

NÃO É O TEU EXÉRCITO PESSOAL
Ainda que muitos utilizem o anonimato para vinganças pessoais, Anonymous não o defende, visto ter como objectivo não o bem individual mas o da comunidade. Actualmente, sempre que alguém mostra intenções de o fazer, a resposta manifestada nos fóruns é a mesma: «Isto não é o teu exército pessoal.»

A IRONIA DA MÁSCARA
Representa a cara do inglês Guy Fawkes, revolucionário do século XVI, e foi adoptada pela banda desenhada (e mais tarde filme) V for Vendetta. É através dela que estamos habituados que Anonymous «dê a cara». São vendidas mais de 100 mil máscaras por ano e todos podem ter uma. Como é a Warner Bros que detém os direitos da imagem, lucra por cada máscara vendida. A ironia é que, apesar da Warner Bros se opôr com veemência a tudo o que Anonymous defende, o movimento deu-lhe a ganhar, até à data, 28 mil milhões de dólares.

OBRA DELES?
A máscara e o anonimato faz com que muitas pessoas se aproveitem do grupo para satisfazer interesses pessoais, mesmo que vão contra o que o movimento realmente representa. Uma boa forma de distinguir os «verdadeiros» dos «falsos» é analisando se a acção foi cometida por vingança, já que, nos dias de hoje, o grupo é severamente contra isso.

OLDFAGS, NEWFAGS E MORALFAGS
Ninguém sabe quem actua há mais ou menos tempo e, mesmo pertencendo todos a um único movimento, há sempre conflitos internos. Os novatos são os newfags, os veteranos os oldfags, e moralfags são todos os que discriminam actos feitos por puro prazer e vingança ou que vão contra a imoralidade de alguns dos movimentos.

4CHAN
4chan é um boletim de imagens on-line, de utilização anónima, que serviu de base para os primeiros ataques atribuídos a Anonymous. Ainda está activo.

FOR THE LULZ
Antes do movimento Anonymous ter objectivos sérios, todas as acções eram praticadas por uma única razão: lulz (corrupção do LOL). Ou seja, só pela piada. Ainda hoje, quando os objectivos são alcançados, «did it for the lulz» é a mensagem que se passa.

É FÁCIL COOPERAR
Um ataque de negação do serviço (DoS Attack) é utilizado como aviso de como em poucas horas se conseguem juntar Anonymous em milhares e organizar um ataque a um servidor. Qualquer um pode participar voluntariamente. Existe um computador-mestre que coordena o ataque e deixa o servidor indisponível.

PROJECTO CHANOLOGY
O movimento organizou-se com o intuito de destruir a Igreja da Cientologia por esta coagir os membros a doar à seita enormes quantidades de dinheiro. Em 2008 deu-se o primeiro protesto de rua, que reuniu cerca de 8300 pessoas. Nos fóruns, o início do manifesto deu-se com a troca da letra S de Scientology pelo símbolo $.

OCCUPY WALL STREET
Em 2011, este movimento de rua teve como objectivo protestar contra a desigualdade social, a corrupção e o sistema capitalista dos EUA. Mobilizou cerca de 10 mil pessoas, chegando a atingir também a Europa.

CHAOTIC NEUTRAL
São comportamentos imprevisíveis, ainda que não totalmente aleatórios, em que se coloca as necessidades do indivíduo à frente das necessidades sociais. Chaotic Neutral é por vezes considerada a mais pura forma de caos, para o bem e para o mal, visto a liberdade ser o fim desejável.

PATROCÍNIOS RECUSADOS
Todos os movimentos são livres de qualquer patrocínio corporativo ou contribuições financeiras, mantendo assim o consenso colectivo. O movimento é autónomo, salvo de empreendimentos e sociedades alheias.

UNIDADE
Fundamento pelo qual o movimento é administrado, colocando sempre os princípios acima das personalidades. Os conflitos internos são resolvidos e acordados pelo consenso da maioria. Sendo que nenhuma opinião é valorizada acima de outra, todas são bem-vindas. Assim é guiada a consciência colectiva do movimento.


Artigo publicado na edição #07 da Revista 21

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