domingo, 8 de Dezembro de 2013

Entrei num Filme Pornográfico



Na edição #07 da Revista 21, falámos com uma mulher que já entrou num filme pornográfico. Recorde os pormenores desta ousada aventura! 

Texto: Maria Waddington 

Catarina é em tudo uma mulher normal. Os seus olhos verdes e o cabelo loiro não aparentam nada de artificial. Não tem tiques de estrela ou de sedutora. É uma pessoa modesta e, atrevo-me a dizer, inteligente. E, no entanto, participou como actriz num filme pornográfico há pouco mais de uma década atrás. Hoje, com 30 anos, é psicóloga clínica e vive em Coimbra. A primeira pergunta que lhe quis fazer foi também a mais óbvia: porquê? «Pelo dinheiro, acima de tudo. Na altura ganhei o equivalente a mil euros, mais coisa menos coisa, o que não era nada mau. Com o dinheiro pude ir a França e à Alemanha. E claro, também tinha uma certa curiosidade em saber como tudo se processava.» Mas voltemos ao início: como surgiu tal oportunidade? «Decidi ir fazer Erasmus em Itália e, enquanto procurava casa por lá, encontrei um anúncio que me agradou. Claro que na altura não me apercebi que seria para um filme pornográfico, mas o facto de poder ganhar algum dinheiro extra cativou-me. Liguei, pediram-me alguns dados - falávamos apenas em inglês - e só quando me encontrei finalmente com os “empregadores” é que me apercebi que queriam actrizes para um filme pornográfico. Fiquei um tanto ou quanto em estado de choque, como é óbvio.» Mas mesmo assim decidiu aceitar. Ninguém a tentou demover? «Tinha acabado uma relação há pouco tempo, não havia o constrangimento do namorado. Estava em Itália apenas com umas amigas, mas não eram “melhores amigas”, por isso nem lhes contei. Não queria ter de ouvir comentários desagradáveis da parte delas, e como só éramos colegas, tinha noção de que não seria um assunto que ficasse apenas entre nós. A única pessoa a quem contei foi a uma amiga que tinha ido para França mas esteve comigo em Roma uns dias. Ela ficou estupefacta e não quis acreditar que me ia meter em algo assim, mas não me tentou demover. A verdade é que não tinha nada a perder. E há dez anos não havia o boom da Internet e a facilidade de acesso a pornografia que há hoje.» Catarina avançou assim para uma experiência que não haveria de esquecer.

LUZES, CÂMARA... ACÇÃO!
Não era uma rapariga particularmente ousada, mas via-se de súbito a entrar numa casa para ser filmada a fazer sexo. Pedi-lhe, como é natural, para me descrever a cena. «Era uma história muito básica, como seria de esperar. Dois homens organizam uma orgia com três mulheres e eu, que fazia de “esposa” de um deles, chego a casa, encontro-os no quarto, e em vez de ficar chocada com a situação, junto-me à “festa”. Não fui, de forma alguma, a personagem principal, e nem sequer tive de falar, apenas me pediram para gemer.» E o sexo? «Se bem me lembro, comecei por ser beijada pelas outras actrizes enquanto os homens nos olhavam e ficavam excitados. Depois foi o habitual: beijos, lambidelas, sexo oral.» As câmaras não lhe fizeram confusão? «Estranhamente não. Acabou por ser apenas sexo puro e duro. Os nervos que inicialmente senti tornaram-se excitação, até pela novidade da situação. Era a primeira vez que fazia algo assim, a primeira vez que participava numa orgia, a primeira vez que me envolvia com uma mulher. Por tudo isso as câmaras deixaram de ter importância. Quase nem notei que lá estavam.» Significa isso que gostou? «Posso apenas dizer que não fingi orgasmos. E não gemi por obrigação. Não me parece que tenha acontecido o mesmo com todos os outros actores, mas comigo foi verdadeiro. Claro que tenho noção de que muitas vezes não é isso que acontece.» Mas aconteceu. E estava gravado.

DEPOIS DA ACÇÃO
Catarina parece ter gostado do trabalho que protagonizou. Mas e hoje? Seria capaz de o repetir? «Não. Vejo esta aventura do meu passado como uma experiência única, mas não a voltava a fazer. Até porque hoje em dia a indústria pornográfica está muito mais aberta à sociedade e ao público em geral, e não quero - nem posso - correr o risco de ser reconhecida. Imagina que um dia estou a dar uma consulta e me dizem que me viram num filme pornográfico... Por muito que o pudesse negar, seria sempre muito embaraçoso. Aliás, durante algum tempo até me fazia confusão quando alguém olhava fixamente para mim. Pensava que estava a ser reconhecida. Felizmente isso passou e agora já nem penso muito em nada disto.» Quererá isto dizer que os seus amigos e família nunca chegaram a ver o filme? «Que eu saiba, não! Os meus pais, na altura, perguntaram-me onde tinha arranjado o dinheiro para as viagens que fiz, até porque, como é evidente, tinham noção da minha mesada. Mas eu disse que estava a fazer um part-time numa pizzaria, e eles acreditaram, claro, até porque não tinham razão para não o fazer. Estavam em Portugal.» Não consegui terminar a conversa sem satisfazer uma curiosidade particular: o filme existe na Internet? «Sinceramente não sei. Nunca procurei. Mas espero que não. Sei que já passou algum tempo e tenho alguns anos em cima e o meu aspecto mudou um pouco, mas os traços do rosto continuam os mesmos e a única coisa que não quero é que me venham um dia a reconhecer.» Tendo em conta a dificuldade que tive em lhe arrancar esta entrevista, vejo-me forçada a concordar: o passado de Catarina não passará provavelmente de uma memória distante e muito pessoal.


Artigo publicado na edição #07 da Revista 21

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