«Paula Cristina Martins Torres Rodrigues, com o romance
Horizonte e Mar, venceu a edição deste ano do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, anunciou hoje a Estoril-Sol que patrocina o galardão, juntamente com a editora Gradiva.
O júri, que foi presidido pelo escritor Vasco Graça Moura, destacou, neste romance, "a abordagem etnográfica a que o romance procede, pouco presente no panorama da actual ficção portuguesa, expressa numa narrativa bem conduzida, cuja frase é, no geral, vertebrada, sendo sentimentalmente envolvente e susceptível de atravessar diversos patamares de leitura".
Paula Torres Rodrigues, de 35 anos, é professora do ensino secundário, nasceu no Porto, e vive actualmente em Leça da Palmeira. Para a autora, a atribuição do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís é "um marco importante".
"Talvez pelo facto de nunca ter ambicionado receber um prémio literário, foi com surpresa e emoção que recebi a notícia. Dado o seu valor institucional, começo já a sentir o peso da responsabilidade, mas, simultaneamente, sinto-me extremamente feliz e desejosa de que este prémio me ajude a colocar as gentes de Matosinhos na 'boca do mundo'", disse.
À Lusa, Paula Torres Rodrigues afirmou que a escrita esteve presente na sua vida desde a sua mais tenra memória. Em Junho passado, a autora publicou o seu primeiro livro,
Bicharada à Desgarrada, destinado ao público infantil. Trata-se de um livro que "relata uma aventura animada repleta de cor, magia, humor e diversão, onde tudo pode acontecer, de uma forma imprevisível, mas com um final feliz".
A autora afirmou estar "empenhada em divulgar e fomentar o gosto pela leitura e escrita entre crianças e jovens". Sobre o romance agora distinguido, afirmou que, "para dar vida e corpo às personagens, que há muito habitavam" a sua imaginação, partiu "de memórias que foram passando de geração em geração, de algumas vivências longínquas" e dos apontamentos que foi fazendo "aqui e ali, misturados com uma boa dose de ficção".
"Foram cerca de dois anos de investigação, pesquisa, refinamento de ideias e recolha de pormenores, sempre em torno da cidade de Matosinhos e suas gentes", disse a autora, que começou a escrever o romance "aos poucos", em 2011, "sem nenhum objectivo delineado, a não ser o firme propósito de colocar no papel a realidade e tradição de uma cidade".
"Uma cidade que me viu crescer, que sempre me maravilhou e que povoa até hoje as minhas mais tenras recordações. Habituada a viver perto do mar, no seio de gente genuína e agarrada aos seus costumes e tradições, desde cedo me interessei por Matosinhos, pelas suas gentes, pela sua etnografia", rematou.
"Talvez o maior objectivo subjacente à escrita deste livro seja, na verdade, uma espécie de tentativa de homenagem a um pequeno pedaço de terra, a uma pequena súmula de horizonte e mar, que, em meu entender, merece ser destacado no mapa pela sua história e tradição", acrescentou.
"É esta a grande função da protagonista, uma mulher simples, do povo, que encarna os vícios, os anseios, os costumes, a cultura, ou a falta dela, de uma terra à beira-mar plantada", adiantou.
Paula Torres Rodrigues afirmou-se "enamorada pela prosa descritiva e acutilante de Eça de Queirós, pelo estilo grandíloquo de Camões e pela contemporaneidade de escritores como José Saramago e Vergílio Ferreira" e afirmou que o Prémio "constitui um forte incentivo para dar continuidade ao percurso na escrita".
O Prémio foi criado em 2008 pela Estoril Sol, no âmbito das comemorações do cinquentenário da empresa, e já distinguiu Raquel Ochoa, em 2009, Paulo Bugalho, em 2010, Tiago Patrício, em 2011, e Marlene Ferraz, no ano passado.
Só em 2008 o prémio não foi atribuído, dada a falta qualidade dos originais a concurso, justificou na altura o júri. O júri, além de Vasco Graça Moura, integrou Guilherme d'Oliveira Martins, José Manuel Mendes, Maria Carlos Loureiro, Manuel Frias Martins, Maria Alzira Seixo, Liberto Cruz, Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu.
Ao Prémio, com valor pecuniário de 25.000 euros e a possibilidade de publicação da obra, pela Gradiva, podem concorrer autores portugueses até 35 anos, sem qualquer romance publicado.»
Via
Diário Digital.
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