quarta-feira, 21 de Novembro de 2012

Criança traz Philip Roth de volta à escrita


«Afinal, Philip Roth não vai desaparecer. Pelo menos para já. Aos 79 anos, o escritor norte-americano que anunciou em Outubro que ia deixar de escrever e que Némesis, de 2010, seria o seu último romance, tem ainda projectos em mãos.

Numa entrevista ao diário norte-americano The New York Times (NYT) – a última que dará, garante –, Roth fez um balanço da sua carreira, aparentemente sem arrependimentos, falou dos seus autores, do trabalho “frustrante” do romancista e de como olhar para um post-it onde se lê a frase “a luta com a escrita acabou” lhe dá força para continuar. “Sei que não vou escrever tão bem como costumava. Já não tenho resistência para lidar com a frustração. Escrever é frustrante – é uma frustração diária, já para não falar na humilhação. É como o basebol: falha-se dois terços do tempo”, admitiu a Charles McGrath, jornalista do NYT.

Philip Roth, por muitos considerado um dos maiores escritores da actualidade, é autor de uma vasta obra (31 livros, com estreia em 1959) que inclui títulos como Pastoral Americana, Conspiração Contra a América e O Complexo de Portnoy, intensamente premiada. Único autor americano vivo a ter a sua obra publicada numa edição completa e definitiva pela Library of America (a publicação do último dos oito volumes está prevista para o próximo ano, segundo a sua editora portuguesa, a D. Quixote), Roth está agora a terminar um conto. É escrito a quatro mãos via e-mail com uma menina de oito anos, filha de uma ex-namorada, diz o jornal americano, sem avançar detalhes.

O projecto que mais o ocupa, no entanto, é o da sua biografia. Escolheu o autor na Primavera e, desde então, tem-se dedicado a escrever-lhe notas longas e memorandos que já enchem várias caixas. Blake Bailey, o eleito, está habituado ao universo dos escritores, já que é autor das biografias de Richard Yates e John Cheever. Roth está empenhado em que nada falhe e garante que nunca foi tão sincero com alguém como está a ser com Bailey. “Agora trabalho para Blake Bailey”, diz. “Já não sou responsável por explorar a minha vida. Eu precisava dela como suporte para a minha ficção. Tenho de ter qualquer coisa sólida debaixo dos pés quando escrevo. Não sou um fantasista.”

É por estar envolvido neste projecto que agora a maior parte do seu tempo de leitura é dedicado às biografias dos outros e à história do século XX. A decisão de parar de escrever começou a desenhar-se na sua cabeça logo a seguir a Némesis, romance sobre uma epidemia de poliomielite que em 1944 atingiu a cidade onde nasceu, Newark, mas Roth preferiu esperar. “Não disse nada porque quis ter certeza de que era verdade. Pensei: ‘Espera um minuto, não anuncies que te vais reformar para depois voltar atrás.’ Não sou o Frank Sinatra.”»

Via Público.

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