terça-feira, 25 de Setembro de 2012

Cientistas alertam para invasão de minhocas alienígenas


«Num estudo recente, cientistas alertam para uma "invasão global de minhocas" e dizem que espécies "alienígenas" já conquistaram quase todos os continentes. Segundo a pesquisa, publicada pela revista Soil Biology & Biochemistry, espécies invasoras de minhocas estão a vencer a competição com espécies locais e a adaptar-se mais rapidamente a terrenos desmatados e cultivados, mudando a estrutura dos solos.

Os investigadores tentam entender como elas estão a fazer isso e, mais importante, o impacto que têm sobre os solos e a sobrevivência de outras espécies. "A invasão de minhocas não-nativas é um fenómeno verdadeiramente global no qual espécies invasoras estão a chegar a todos os continentes, com excepção da Antárctida", disse à BBC Bruce Snyder, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos.

A maior parte das florestas da América do Norte, por exemplo, foi um dia desprovida de minhocas. Quando os europeus colonizaram a região, introduziram inadvertidamente espécies de minhocas europeias que vinham nos navios e na terra usada para transportar plantas. Essas novas espécies continuam a ganhar terreno e, segundo Snyder, "estão a invadir também florestas no norte de Wisconsin, em Minnesota, Nova Iorque e partes do Canadá".

No ano passado, uma pesquisa publicada na revista Human Ecology afirmou que as minhocas invasoras podem alterar os ciclos de carbono e nitrogénio nos bosques, assim como minar espécies de plantas nativas. Mas outro estudo, também publicado em 2011, descobriu que minhocas "alienígenas" podem ter um impacto positivo nos seus novos ambientes. O levantamento analisou o papel das minhocas no ciclo de carbono das florestas tropicais e concluiu que as criaturas ajudam a manter o carbono no solo.

Além das europeias, as minhocas asiáticas também estão a chegar às florestas dos Estados Unidos e Canadá.

Um estudo recente diz que a espécie asiática Amynthas hilgendorfi, que está a invadir as florestas do Estado do Michigan, cresce mais rapidamente no novo ambiente e aumenta a concentração de formas minerais de nitrogénio e de fósforo no solo. No entanto, isso faz com que detritos na floresta decomponham-se mais lentamente. Outras observações feitas pela equipa sugerem que a A. hilgendorfi pode deslocar as espécies nativas e tornar-se a única presente, uma hipótese confirmada por Bruce Snyder e os seus colegas.

Snyder descobriu que as invasoras e as nativas competem pelo mesmo tipo de material em decomposição. No entanto, a espécie nativa, que fica mais restrita à superfície do solo, acaba por morrer quase 3 meses mais cedo que o normal por conta da maior competição por recursos. As invasoras, por outro lado, cavam regiões mais profundas do solo em busca de alimento.

"Este estudo, combinado com outros, sugere que a invasão de minhocas pode mudar directa ou indirectamente a forma como o carbono é armazenado nos solos, danifica plantas nativas e biodiversidade animal e causa problemas de erosão", explicou o pesquisador.

Na floresta Amazónica, no entanto, a invasão da espécie Pontoscolex corethrurus está a modificar o comportamento do solo em regiões desmatadas e protegendo áreas expostas da erosão. Esta espécie pode reproduzir-se rapidamente, com cada adulto produzindo cerca de 80 casulos, ou ovos, por ano em comparação com um número bem inferior produzido pela maioria das minhocas.

De acordo com Patrick Lavelle, das Academias Francesa e Europeia de Ciências, "este verme é adaptado às novas condições criadas pelo abate de árvores e pelo cultivo, o que não era o caso das espécies nativas". Lavelle acaba de publicar um estudo sobre o impacto desta minhoca nos solos desmatados da Amazónia.

Os pesquisadores descobriram que estes animais podem aumentar os níveis de minerais no solo e estimular o crescimento de plantas, mas há um preço a pagar. "O problema é que as espécies nativas provavelmente não voltarão. E é sempre mau perder espécies", disse Lavelle à BBC.

A perda de espécies é especialmente negativa porque as "invasoras" podem estar a dizimar minhocas que os cientistas ainda não conseguiram identificar.»

Via Diário Digital.

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