sábado, 14 de Julho de 2012

Opinião: A Virgem Doida


A VIRGEM DOIDA

Ficha Técnica
Encenação: Mónica Calle
Intérpretação: Mónica Calle
 
Casa Conveniente
Rua Nova do Carvalho, n.º 11, Lisboa
14, 15, 16 e 17 de Julho
Sessões contínuas das 20h00 à 1h00
Preço: 10,00 €

Informações
 912 818 164 | 967 580 171
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Se tanto não houvesse para ser dito, poderia-se resumir o espectáculo A Virgem Doida numa única palavra: intensidade. Sentimo-la no instante em que pomos os pés no escuro da Casa Conveniente e damos de caras com a nudez melancólica de Mónica Calle. Sentimo-la nos olhos brilhantes da actriz, na forma como, em esforço, nos convence das suas agruras existenciais. Sentimo-la nos silêncios, nos movimentos pendulares do corpo, no suor que lhe invade o peito.

Mas comecemos pelo princípio, já que esse é também o fim...

A Virgem Doida é uma espécie de one-woman show encenado e interpretado por Mónica Calle a partir de Délires I: Vierge Folle - L'Époux Infernal (e não só), um desabafo alucinado de Jean-Nicholas Arthur Rimbaud publicado no poema Une Saison en Enfer e posteriormente traduzido por Mário Cesariny. Em 1992, Mónica Calle escolheu este pedaço de arte surrealista para inaugurar a sua Casa Conveniente. Era um espectáculo chocante e provocador, mais não fosse pela nudez integral e (quase) constante da actriz. Agora, com um corpo diferente e duas décadas de experiência em cima, retorna a ele, traçando-lhe novos contornos. E o mais surpreendente? Continua a ser chocante e provocador.

E exaustivo. Mónica Calle desempenha um daqueles papéis que cansa só de ver, capazes de distinguir uma boa de uma grande actriz. Durante cinco horas, o público é livre de entrar e sair quando lhe apetece, mas Mónica permanece no seu quarto escuro e faz o espectáculo completo uma, duas, três vezes seguidas, em loop. Quando se pensa que é assim por cinco dias seguidos e que esta é já a segunda volta da peça este ano (a primeira durou de 31 de Maio a 10 de Junho), há que admirar, no mínimo dos mínimos, a sua resistência e tenacidade.

Não é, de todo, fácil compreender o seu discurso. Temos de nos recordar que o texto original é um delírio poético que pouco deve à linearidade. As palavras de Mónica devem, por isso, ser apreciadas, numa primeira instância, da mesma forma que se aprecia um quadro. O que interessa não é o que significam, mas o que nos fazem sentir. E este é um ponto importante, já que na tristeza dos olhos e no balançar constante do corpo da actriz, nota-se um desejo ardente de compreensão. Em A Virgem Doida, Mónica Calle mostra-se nua em mais do que um sentido. É isso que lhe dá valor.

É cada vez mais raro encontrarmos espectáculos assim, tão arriscados e alternativos. E infelizmente é possível que esta seja a sua última exibição. Aproveite, por isso, os próximos dias para ir à Casa Conveniente. A Mónica Calle bem o merece.

Texto: Tiago Matos 
Fotografias: Bruno Simão 






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