Aos 47 anos, Monica Bellucci continua a ser uma mulher muito especial. A actriz surge nua numa cena do seu último filme, Un Été Brûlant (Um Verão Escaldante), apenas dois meses depois de dar à luz a sua segunda filha. Em entrevista ao sítio brasileiro Veja, a italiana conta a experiência.
Em Um Verão Escaldante, sua personagem perde o controle da profissão e da vida amorosa. Existe uma receita para o equilíbrio nessa atividade?
As pessoas entram em crise em qualquer profissão, não apenas no negócio do cinema. Não é o tipo de trabalho que é determinante no desequilíbrio mental da pessoa, mas a vida em si. A gente sai dos trilhos porque a vida acontece, coisas ruins acontecem e você não consegue superá-las ou lidar com elas. Quando você começa a acreditar na imagem que criou para si mesma, como a Angèle de Um Verão Escaldante, isso vira uma coisa perigosa, doentia. A partir do momento em que Angèle fica famosa e ganha poderes, ela se torna uma mulher feia, porque se transforma numa pessoa agressiva, rude e desagradável.
Sentiu-se de alguma forma incomodada por ter que fazer cenas de nudez dois meses depois do parto de Léonie?
De modo algum. Eu me senti confortável e protegida no set, e foi Philippe quem me garantiu essa segurança. O que não entendo é porque todo mundo fala sobre esse curto momento em que apareço nua em Um Verão Escaldante e não se escandalizam com o fato de uma atriz mais jovem fazer muito mais cenas de sexo, como Keira Knightley, em Um Método Perigoso! O filme dela também foi exibido aqui em Veneza, no mesmo dia, e com cenas muito mais picantes, mas ninguém ficou chocado com elas, ou foi atrás de Keira por causa disso. E olha que minha pequena cena de nudez é apresentada como uma pintura, sem qualquer apelo.
Ainda incomoda ser convidada para encarnar mulheres sensuais?
Já fiz muitos papéis fortes na minha carreira, como Malena e Irreversível, nos quais a nudez fazia parte da história da personagem. Nunca me senti usada por um diretor. Mas, de qualquer forma, sou uma atriz e, como tal, uso o meu corpo como instrumento de trabalho. Para ser sincera, adoro a nudez em filmes, quando ela é usada dentro do contexto correto. Tenho experiência suficiente para saber exatamente quando a nudez está sendo utilizada de maneira apropriada ou não dentro de um filme. E, claro, recusaria trabalho caso a nudez estivesse sendo mal explorada.
Você e Vincent conversam sobre trabalho?
Quando estamos juntos, não falamos muito sobre filmes. Nunca interfiro nas escolhas que Vincent faz, nem ele nas minhas. Nossas vidas já são tão separadas física e profissionalmente que, quando passamos algum tempo juntos, o que menos queremos é conversar sobre trabalho (risos). A gente conta as horas para ficar junto de nossos filhos e curti-los, como uma família normal. Somos pessoas bastante independentes, e gostamos disso. Nunca interferirmos sequer no trabalho um do outro. Acho até que o fato de morarmos em cidades diferentes, eu em Londres, ele em Paris, torna nossos momentos juntos muito mais gratificantes. Não existem fórmulas para um casamento dar certo.
Já faz muito tempo que vocês não trabalham em um mesmo filme...
Temos um projeto juntos, que ele dirigirá, e que esperamos rodar no Brasil. É uma comédia romântica adulta, ambientada durante o carnaval brasileiro. É uma oportunidade que aguardo com ansiedade.
Mesmo depois do segundo filho, você não diminuiu o ritmo de trabalho. Os compromissos profissionais e os deveres maternos não a cansam?
Ainda não me sinto cansada com nada. Minha curiosidade ainda é muito grande, há tantas coisas acontecendo em casa e na minha profissão... Minha filha mais velha, Deva, já está com oito anos de idade, e a mais nova, Léonie, vai fazer 2, mas sempre dou um jeito de levá-las comigo quando vou fazer um filme. Não é fácil, é verdade, mas não é grande problema assim. É uma questão de organização.
O que você pode adiantar sobre esse filme que Vincent pretende rodar no Brasil? Qual o seu papel nele?
É uma história de amor entre dois adultos e as dificuldades do relacionamento entre eles. Eu e o Vincent interpretamos o casal da história. Promete ser um filme bastante divertido, mas um pouco melancólico também, embora a ação se passe durante o Carnaval brasileiro. Não gostaríamos de antecipar detalhes e acabar com o prazer do espectador em relação a uma história de amor tão bonita e delicada.
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