sábado, 4 de Janeiro de 2014

Detinha Avelino: Liberdade Condicional


O domingo amanheceu ensolarado e apesar da tristeza decidi sair. Fazia duas semanas que o meu marido viajara para o Brasil onde ficaria por três meses. Decidimos, como adultos, que não existiriam cobranças nem amarras. Eu estava um pouco enciumada, porque sabia que no Brasil haveria muitas tentações, mas queria que ele as aproveitasse bem.

Coloquei algumas coisas no carro e fui para a praia. Sim, porque não? A água de certeza estaria fria, mas o sol encantava-me. Sentia-me um pouco triste e decidi não descer ao areal, ficando antes numa mata que há na Fonte da Telha. O lugar era lindo e isolado, por isso pus uma toalha no chão e apanhei sol completamente nua. O sol tocava o meu corpo e aquecia-me entre as pernas abertas. Não pensava que sentiria tanto a falta de sexo, porque sempre fui uma pessoa que controla o próprio corpo, mas nesse momento daria tudo para ter o meu marido ali.

Acabei por adormecer, despreocupada por achar que ninguém iria tão longe quanto eu estava. E não foram ruídos que me despertaram, mas sim a sua completa ausência. À minha frente estavam agora dois homens, tão chocados como eu. Pareciam ser turistas e, pelos cabelos negros, espanhóis. Começaram a falar muito rápido comigo e eu, apesar de entender tudo, disse: «No comprendo». Sorriram quando perceberam que eu era brasileira. Ficaria ofendida por pensar que, uma vez mais, o preconceito para com a minha nacionalidade levava alguém a fazer um julgamento errado, mas olhando melhor para os dois, até eram giros e pensando nisso, quase nem me lembrei de cobrir o meu corpo nu.

Eles perguntaram se se podiam sentar um pouco e começaram a tirar a roupa também. Creio que pensavam que a área era reservada a nudismo, e eu não lhes quis explicar que isso era uma moda que eu acabara de inventar. Tentavam falar comigo, mas os olhos não saíam dos meus seios. Notei que o mais novo ostentava uma gloriosa erecção. Pensei no que o meu marido diria disso, mas não tinha sido eu a procurar esta situação e, talvez por conveniência, acreditei que o meu marido diria: «Goza a vida.»

Não posso dizer quem começou primeiro, mas, de forma natural, com um e outro deitados ao meu lado, senti duas mãos a tocar-me nas pernas e seios. O perigo associado a esta situação inusitada foi para mim um fortíssimo afrodisíaco e, como não sou mulher de ficar parada a ver a banda tocar, comecei logo a retribuir carinhos. Já havia passado por uma situação assim antes, mas não me foi totalmente agradável. Na altura, senti um pouco de vergonha, mas ali, naquele momento, estava totalmente à vontade e excitada. Os dois exploravam como loucos o meu corpo, com as mãos e bocas, e fiquei muito mais relaxada para o desfrutar quando vi que tinham preservativos na carteira.

Ficámos lá toda a tarde. Conversámos pouco, aproveitámos muito. José e Eduardo eram de Madrid e convidaram-me a visitá-los. Limitei-me a sorrir, sabia muito bem que jamais os aceitaria ver outra vez. Foi uma aventura deliciosa, mas não me satisfez completamente. Ainda sentia o meu corpo a pedir mais. Esperava que o meu marido regressasse rapidamente e pusesse um fim a esta liberdade condicional. Caso contrário, era melhor não sair mais à rua.

Por: Detinha Avelino

Detinha Avelino é uma escritora brasileira, residente em Lisboa. Escrevendo em espanhol, publicou os livros Seduzca Me, de contos românticos e eróticos, e Pequeña Y Rara, onde relata engraçadas e problemáticas passagens do dia-a-dia. Os seus livros podem ser encontrados em detinhaavelino.bubok.es.

Crónica publicada na edição #08 da Revista 21

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