sexta-feira, 30 de Novembro de 2012

Caballero Bonald vence prémio Cervantes


«O prémio Cervantes, considerado o Nobel da Literatura para escritores de língua castelhana, foi atribuído esta quinta-feira ao poeta, romancista, memorialista e crítico literário José Manuel Caballero Bonald, um dos grandes nomes da chamada “geração de 50”, que se estreou no pós-guerra.

Com uma dotação financeira de 125 mil euros, o Cervantes é um prémio estatal atribuído ao conjunto da obra de um autor. Caballero Bonald, cuja escolha foi anunciada pelo ministro espanhol da Educação e Cultura, José Ignacio Wert, precisou de cinco votações sucessivas para afastar os outros 20 candidatos ao prémio deste ano. O  presidente do júri, Darío Villanueva, secretário-geral da Real Academia Espanhola,  considerou-o “um mestre no uso do idioma”, lembrou que o premiado começou pela poesia e “é um poeta que ainda não guardou a pluma”, e reconheceu que “a projecção ibero-americana” da sua obra contribuiu para a decisão do júri.

Nascido em Jerez de la Frontera em 1926, de pai cubano e mãe com ascendência francesa, Caballero Bonald era ainda adolescente quando rebentou a guerra civil. Terminado o conflito, foi estudar náutica e astronomia para Cádiz em meados dos anos 1940, e já nessa época começou a escrever os seus primeiros poemas. Em 1949, vai para Sevilha estudar Letras e Filosofia e no ano seguinte o seu poema Mendigo vale-lhe o prémio de poesia Platero, o primeiro de uma longa série de prémios literários, agora coroada como o Cervantes.

Publicou o seu primeiro livro de poemas (Las Adivinaciones) em 1952, e só dez anos mais tarde, em 1962, se estreou como ficcionista, com Dos Dias de Setiembre. Nesses primeiros anos da década de 1960 viveu em Bogotá, na Colômbia, ensinando literatura, e colaborou com García Márquez na revista Mito.

Regressou a Espanha em 1963, tendo sido sempre um activo opositor ao regime franquista. À obra de poeta e ficcionista, e à sua vasta produção ensaística, acrescentou, em anos mais recentes, uma vocação memorialística, com títulos como Tiempo de Guerras Perdidas (1995) ou La Costumbre de Vivir (2001).

Patrono da Fundação Caballero Bonald, criada em 1998, o poeta já recebera os mais importantes galardões literários espanhóis, e só lhe faltava mesmo o Cervantes. A aproximar-se dos 90 anos, tem continuado a publicar regularmente, mas garante agora que, depois de Entreguerras – uma espécie de ambiciosa autobiografia poética, constituída por um só poema de quase três mil versos, lançada já este ano –, tenciona pousar definitivamente a pena.

Muito popular em Espanha e na América Latina, Caballero Bonald não é especialmente conhecido em Portugal, ainda que haja poemas seus traduzidos pelo incansável divulgador da lírica espanhola que é José Bento. Mas está longe de ter a notoriedade de outros poetas da geração de 1950, como Antonio Gamoneda, Jaime Gil de Biedma, Claudio Rodríguez ou José Angel Valente.

No entanto, a nova geração de leitores de poesia parece não o ter esquecido. Começam a aparecer, na Internet, traduções recentes de alguns dos seus poemas, e é sugestivo que um dos mais interessantes novíssimos poetas portugueses, Diogo Vaz Pinto, nascido em 1985, tenha incluído, no seu livro Bastardo (Averno, 2012), uma epígrafe retirada do poema Argumento de la Mirada, de Caballero Bonald: “El único argumento es ya el de la mirada”.»

Via Público.

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