domingo, 1 de Setembro de 2013

Opinião: Saints Row IV


Um jogo que nos permite roubar carros, fazer sexo com os colegas, exterminar alienígenas e ser o presidente dos Estados Unidos? Parece inacreditável, mas é bem real. Bem-vindo a Saints Row IV! 

Texto: Tiago Matos

Talvez pareça exagerado, mas acreditem: Saints Row IV é um dos melhores jogos do ano. Não, não. Do século! Nesta era de videojogos demasiado sérios que ano após ano se imitam a si próprios, destaca-se com a pujança de uma pedra no charco, e é a melhor prova de que ainda existem pessoas criativas e com sentido de humor a trabalhar na indústria. Confesso que, algo inexplicavelmente, não conhecia a saga, nem tão pouco tive a oportunidade de experimentar qualquer dos seus antecessores. Pode-se dizer, portanto, que caí de pára-quedas no bizarro mundo de Saints Row. O que não evitou que me tenha divertido mais a explorá-lo do que a qualquer outro jogo nos últimos anos.

Mas comecemos pelo princípio. Que é como quem diz pelo comando de um dos elementos de uma equipa de intervenção, os Saints, numa missão secreta no Médio Oriente, logo no primeiro nível. Para quem, como eu, não sabe ao que vai, o jogo parece, à primeira vista, um third person shooter tradicional, com uma jogabilidade interessante mas gráficos um pouco abaixo dos padrões da actual geração de consolas. Mas eis que, de súbito, começa a tocar «I Don't Want to Miss a Thing» dos Aerosmith, numa cena particularmente «heróica». E, a partir daí, tudo muda.

Não é minha intenção revelar demasiados detalhes do enredo, até porque considero que o factor surpresa de Saints Row IV é um dos seus pontos mais hilariantes, mas não resisto desvendar que, graças ao desfecho do primeiro nível, iniciamos o segundo no papel de presidente dos Estados Unidos. É também aí que nos deparamos pela primeira vez com um dos aspectos mais fortes do jogo: a customização. É-nos pedido que criemos o nosso personagem e é espantosa a quantidade de detalhes que podemos alterar, muitas vezes com resultados hilariantes. Quer controlar um herói mascarado de voz fina e apetência para a dança? Pode. Prefere ser uma mulher com grandes «atributos» e pouca vontade de usar roupa interior? É só configurar. E que tal uma variação de Hercule Poirot e Fu Manchu capaz de imitar os movimentos de John Cena ou Son Goku? As opções de personalização são quase ilimitadas e não se vai arrepender se passar algum tempo a conhecê-las até criar o seu protagonista perfeito.

Retornando à acção, e mais concretamente à Casa Branca, a extravagância continua quando, a meio de uma conferência de imprensa, a Terra é invadida por extraterrestres. Cabe-nos defrontá-los com todas as armas que encontrarmos pela frente, o que acaba por resultar numa paródia a Space Invaders, o primeiro de muitos tributos a outros jogos incluídos em Saints Row IV. Uma vez mais, não quero dizer como acaba nem o que acontece, mas o terceiro nível inicia-se em formato de sitcom americana e é um dos melhores e mais divertidos que já tive o prazer de jogar. A sério. E ainda é só o início.

A acção prossegue em registo de Grand Theft Auto, com enorme liberdade de acção numa cidade que, apesar de não ser real, parece. É hora de nos entretermos a escolher novas roupas, a roubar e personalizar automóveis, a comprar armas, a enfrentar polícias... e extraterrestres. Ou apenas a cumprir as missões principais (sempre muito criativas, por sinal), que nos permitem evoluir tanto no enredo como nos talentos individuais. Não chega? E se eu disser que a certa altura ganhamos superpoderes? Acreditem: é fantástico correr de uma ponta à outra da cidade em poucos segundos ou saltar do topo dos mais altos edifícios e planar pelo céu. A estes se juntam atributos como superforça, raios de gelo e de fogo, controlo mental, e não só. O mais impressionante é que o jogo nunca estagna, vai sempre alternando a acção passada na cidade com breves e extravagantes mini-jogos e interlúdios. É assim que a certa altura damos por nós completamente nus a comandar uma nave alienígena ao som de «What is Love», por exemplo.

Por falar em música, que grande banda sonora tem este jogo! «Song 2» (Blur), «Still Swingin» (Papa Roach), «Deliver Us» (In Flames), «Opposites Attract» (Paula Abdul), «This Is How We Do It» (Montell Jordan), «Simply Irresistible» (Robert Palmer) e, claro, a hilariante «Just a Friend» (Biz Markie), entre muitas outras, juntam-se a um excelente elenco de vozes. Os gráficos menos conseguidos acabam por ter a importância desvanecida perante tantas coisas boas.

Saints Row IV não é, de todo, um jogo que se deva levar a sério. A premissa é ridícula e apela à criança que há em cada um de nós. Mas quem disse que isto é mau? Saints Row IV tem a sua coerência muito particular e é um jogo criativo, capaz de nos incutir uma liberdade de acção virtualmente inexistente nos dias de hoje. Mais que isso, é um jogo realmente divertido e capaz de nos entreter com as suas extravagâncias por muito, muito tempo. Divirtam-se!




SAINTS ROW IV
Para: Playstation 3, Xbox 360, Microsoft Windows e OS X

GRÁFICOS: 7
Competentes, mas abaixo dos padrões da actual geração de consolas.

SOM: 9
Excelente trabalho vocal por parte do elenco e uma banda sonora hilariante.

JOGABILIDADE: 9
Muitos e complexos movimentos, mas sempre fluidos e fáceis de assimilar.

INOVAÇÃO: 10
Um jogo único que acaba por ser, essencialmente, uma colectânea de diversos géneros, devidamente estruturados numa única narrativa.

REPLAY: 10
É um daqueles (raríssimos) jogos que teremos sempre vontade de jogar, mesmo que já o tenhamos terminado vezes sem conta.

2 comentários:

Fiquei curioso, terei de dar uma olhada!

Grande jogo! O meu passatempo do momento! :)

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