O povo é povo porque não percebe uma série de coisas. Antes de mais, há uma razão para o povo ser tratado por «o povo» e não por outro nome qualquer que lhe dê mais dignidade do que aquela que merece. Podia passar a enumerar estas mesmas razões, quer numa lista ordenada, quer numa lista desordenada, quer numa única frase em que cada item estaria separado por vírgula ou até ponto e vírgula, mas seria irrelevante porque quem me lê não é o povo e quem me lê sabe do que eu estou a falar. Deixarei isto em suspenso, qual solução num laboratório de química abandonado, como fazia o Octávio Machado. A rima não foi propositada.
E como o povo não percebe uma série de coisas, o povo perpetuará a sua condição de povo e será sempre utilizado apenas e só para as estatísticas do desemprego, da SIDA e para receber subsídios variados que vêm dos impostos que pagam numa espécie de ciclo que só o próprio povo não percebe que é ele próprio que alimenta num espécie de enrabanço posto a jeito porque «já que aqui estou mais vale ser enrabado e depois ir à tourada ou ir ver o Benfica» a ser enrabado também por um clube desconhecido da terceira divisão russa que conseguiu apuramento para a Liga dos Campeões ninguém sabe muito bem como, menos o Octávio Machado.
Por isto e mais alguma coisa, custa-me perceber como é que o povo fica numa mistura de indignação, choque e seborreia (porque o povo é dado a doenças de pele) quando o Francisco Assis veio dizer que «qualquer dia querem que o presidente do grupo parlamentar do PS ande de Clio quando se desloca em funções oficiais». Como se ele não fosse bom demais para um Clio. O povo acha que as pessoas que mandam são gente como ele que pode passar dois dias sem tomar banho ou até saltar refeições. Mas não. Quem manda, manda. E é muito mais fácil mandar quando se tem um bom carro e um bom telemóvel e roupas que assentam bem e fazem um gajo parecer mais alto e que pode até usar luvas. Porque um gajo fica cheio de confiança e chega e começa a mandar com muito mais qualidade. O povo como não manda nada é que não percebe isso e acha que mandar é só estar sentado em semicírculo a jogar solitário. Mas não. Mandar é como engatar gajas. Se um gajo vai de Clio, tem de ter um bom telemóvel e roupa de marca para compensar. Ou personalidade. Mas hoje em dia, a personalidade é sobrevalorizada.
Eu próprio já andei de Clio e sei como é. Fiquei todo apanhadinho dum lado, tive de fazer fisioterapia e a minha coluna encolheu tanto que parecia a dum anão. Felizmente, dava para levar de viagem e ligá-la ao iPod.
Por: Juvenal
Crónica publicada na edição #15 da Revista 21
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1 comentários:
quando queres esmeras-te...
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