quinta-feira, 19 de Abril de 2012

Opinião: Não Sou um Serial Killer (Dan Wells)


Não Sou Um Serial Killer

Dan Wells
Contraponto
PVP 16,50€
240 páginas

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A história de um sociopata adolescente com uma obsessão doentia por serial killers não vai fazer de Dan Wells um Nobel de Literatura, mas compõe sem dúvida um livro divertido e interessante.

Texto: Tiago Matos

Eu acho que o destino quer que eu me torne um serial killer.» A frase, proferida por John Wayne Cleaver, o jovem protagonista de Não Sou um Serial Killer, é uma amostra perfeita do que podemos encontrar no livro.

Repare-se: não é uma frase particularmente original. E também não o é a história. Aliás, qualquer fã da saga literária e televisiva Dexter encontrará em J. W. Cleaver muitas semelhanças para com o protagonista criado por Jeff Lindsay. Claro que, ao contrário de Dexter, Cleaver é apenas um adolescente perturbado, o que transporta a narrativa para um universo necessariamente diferente, mas tal como ele, acredita ter um serial killer dentro de si, e que apenas o é capaz de dominar se seguir um conjunto de regras específicas de comportamento. As leis do jogo alteram-se, contudo, quando um verdadeiro serial killer surge na cidade, levando Cleaver a ter de escolher se continua no caminho certo ou liberta o monstro dentro de si para capturar o assassino. Parece-lhe ou não uma premissa extremamente semelhante à de Dexter?

Não é o único ponto em que se percebe a falta de originalidade. Temos, por exemplo, a típica pequena cidade americana, o amigo excluído, o rufia da escola, a loira perfeita como objecto de afeição. Tudo lugares-comuns, descritos de forma competente mas não genial por Dan Wells. As próprias incidências da história são, no mínimo, previsíveis, em especial a identidade do criminoso, revelada sensivelmente a meio como se fosse uma grande surpresa quando, e citando Jorge Jesus em relação a uma recente falta polémica não assinalada pelo árbitro num jogo do Benfica, «até um cego era capaz de a ver». Sim, acabou mesmo de ler uma citação de Jorge Jesus numa crítica literária.

E, no entanto, voltando ao livro e à comparação com a frase inicial, algo de estranho acontece. Porque, apesar de gasta, a frase aguça-nos a curiosidade. E, do mesmo modo, apesar dos pesares, Não Sou um Serial Killer funciona.

A leitura faz-se de forma fluida, a narrativa entretém, os personagens soam-nos reais. A despretensão da obra, que se atreve a passar em simultâneo por thriller, policial e ficção científica, tem quase requintes de prazer proibido, levando-nos a perdoar tudo o resto e desfrutar a viagem. Basta que tenhamos aquela curiosidadezinha mórbida por sangue. E que encaremos os livros como objecto de entretenimento, ainda que muitos desconfiem da palavra, como se livros populares e relaxados não ficassem bem na estante do quarto ou da sala.


Artigo publicado na edição #08 da Revista 21

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