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Detinha Avelino: O Valor da Conquista


Sempre me acostumei a andar nua, cozinhar de madrugada ou dormir todo o dia se estiver de folga, mas por enquanto as coisas aqui estão diferentes. Perdi algo mais valioso que ouro, a privacidade. Tentámos fazer manobras evasivas, mas a minha sogra não se deixa enganar, está sempre onde está o filho. Surpreendeu-me, por isso, um convite dele para sairmos à noite, sozinhos. Ele pediu-me que vestisse algo bem sensual, até mesmo extravagante, pelo que optei por um vestido preto e curto, botas altas e cabelos soltos. Coloquei por cima um casaco vermelho de cabedal. Usei um pouco mais de maquilhagem e sim, carreguei imenso no batom encarnado. Quis, intencionalmente, chocar a minha sogra e consegui-o.

Perguntei, ansiosa, para onde iríamos. A resposta foi «bar de alterne». Não acreditei. Fiz uma piada, mas ele disse apenas que teríamos uma noite diferente. Nunca tinha ido a este tipo de bares e, apesar da curiosidade de saber como seria, pensava ser desnecessário conhecer o inferno para saber que era quente.

Fomos a um na Quinta do Conde. Antes de chegarmos, ele disse-me para entrar sozinha, seguindo-me ele só depois de alguns minutos. Bem, não sou mulher de temer desafios e pensei que o meu querido desejava realizar alguma fantasia.

Entrei no bar e vi que, de diferente dos outros, só tinha mesmo um varão. Havia algumas raparigas, no sentido brasileiro da palavra, a beber ao balcão. Pensava que as mulheres estariam em lingerie ou quase nuas, mas até não, elas estavam vestidas como… eu. Sentei-me a uma mesa e pedi um Red Bull (que custou 7,50 €). Pouco depois entraram dois homens e as raparigas do balcão disputaram entre si qual delas os atenderia. Foi desnecessário pois, mal me viram, os homens encaminharam-se para a minha mesa. Sem cerimónias, sentaram-se e perguntaram-me se queria uma cerveja. Procurei o meu marido com os olhos e encontrei-o numa mesa com duas mulheres. Esperava que ele deixasse o que estava a fazer e viesse ter comigo, mas pareceu embevecido por elas. Um gesto que fez com a cabeça deu-me a impressão de que queria que aceitasse a companhia. Decidi entrar no jogo, até porque eles eram giros, ucranianos, e pareciam querer apenas conversar.

Perguntaram-me se eu gostava de sexo a três. Eu sorri e disse que já o fazia. Lembrei-me, é claro, da minha sogra, sempre a empatar, por isso sim, o sexo na minha casa estava a ser a três. Sorri, seduzi e brinquei até que um deles me perguntou o meu preço. Meio a desconversar, disse que em casas daquele tipo era proibido e por isso não poderia ser ali.

Olhei então para a outra mesa e vi que uma das raparigas já estava sentada no colo do meu marido. Fiquei furiosa. Ele não tinha o direito de fazer algo assim sem me consultar. Como «vingança», coloquei a mão sobre as pernas do homem ao meu lado e ele, incentivado, começou a alisar as minhas pernas sobre as finas meias negras. Recordou-me uma das mais eróticas recordações de minha adolescência, quando um colega de escola se meteu por baixo da mesa e ficou longos minutos a acariciar as minhas pernas nuas com uma pena. Tal como dessa vez, fiquei excitada, paralisada, à espera do que viria depois.

Fechei os olhos por um segundo e, quando os abri, dei com o meu marido a chamar-me. Claro que os meus dois acompanhantes não aceitaram a coisa e, pasmem, deu luta. Saímos do bar com um aviso de que lá não voltássemos, o meu querido com um olho negro e os dois ucranianos bastante amachucados. No caminho para casa, perguntei-lhe qual era afinal a fantasia a ser realizada, ao que ele me respondeu que não era nenhuma. Apenas a satisfação de saber que, ainda que alguns pensem poder pagar, a mulher era exclusiva dele e, melhor, à borla.

Por: Detinha Avelino
Detinha Avelino é uma escritora brasileira, residente em Lisboa. É autora dos livros eróticos «Seduzca Me» e «Pequeña Y Rara», escritos em espanhol, assim como de «Filha do Destino», sobre o qual pode encontrar mais informações aqui.

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