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Efeito Borboleta, Parte I: Diário de um Assassino


Ronald Reagan foi indiscutivelmente um dos mais populares presidentes dos Estados Unidos. O seu estatuto ficou, aliás, bem evidente na convincente vitória nas eleições de 1984. Poucos saberão, no entanto, que essa conquista foi apenas o culminar de uma sucessão de eventos iniciada 12 anos antes com a depressão obsessiva de um homem chamado Arthur Bremer. É este o Efeito Borboleta que exploramos numa série de três artigos que estabelecem a improvável ligação entre o diário de um psicopata, o filme Taxi Driver e a ascensão popular de Ronald Reagan.

Texto: Tiago Matos

Era 1972 e os Republicanos estavam no poder. Richard Nixon, presidente em actividade, havia já anunciado a intenção de se recandidatar ao cargo, mas a nomeação democrata estava ainda em discussão, com as candidaturas de George McGovern, Edmund Muskie e George Wallace a receber maior atenção por parte da imprensa.

Alheio a tudo isso estava Arthur Herman Bremer. Nascido no Verão de 1950 em Milwaukee, no Wisconsin, era um rapaz bastante acanhado e introvertido, criado no seio de uma família disfuncional e abusadora. A adolescência foi-lhe particularmente difícil, já que não tinha quaisquer amigos e era constantemente atormentado pelos alunos mais velhos da sua escola.

Optou por não se revoltar. Fechou-se antes em concha e reprimiu as emoções. Raramente falava com alguém. Perto do final de 1971, já com 21 anos, saiu da casa dos pais e arranjou emprego como contínuo numa escola da zona. Foi nessa altura que conheceu Joan Pemrich, uma rapariga de 16 anos, que aceitou um convite para sair e se tornou a sua primeira namorada. Mas a relação entre ambos não viria a durar muito tempo. Pouco acostumado a situações de socialização, Arthur comportava-se de forma invulgar, exagerando nos comentários e conversas sexuais. Joan acabou por perder a paciência e terminou a relação nos primeiros dias de 1972, depois de pouco mais de um mês de namoro.

Devastado, Arthur recusou-se a aceitar a separação. Telefonou-lhe, perseguiu-a e chegou mesmo a rapar o cabelo como prova de amor, mas tudo o que conseguiu foi que a mãe dela ameaçasse chamar a polícia para o prender. Resignado, mas ainda mergulhado numa profunda depressão, desistiu do seu emprego e trancou-se em casa, refugiando-se no interesse por armas e pornografia. Tinha agora um único objectivo: recuperar a sua masculinidade, provando-a ao mundo.

A 1 de Março, abriu o seu diário particular com as palavras: «Inicio agora o relato do meu plano pessoal para assassinar, por arma de fogo, Richard Nixon ou George Wallace». Encontrara a sua nova obsessão. Ao longo das semanas seguintes, havia de acompanhar ambos os candidatos nos respectivos trajectos anunciados de campanha, registando em simultâneo as suas impressões e pensamentos no dito diário.

O seu alvo preferido era sem dúvida Nixon. Chegou a segui-lo até ao Canadá, mas o presidente tinha sempre um elevado número de seguranças a protegê-lo graças à presença habitual de protestantes contra a Guerra do Vietname nos seus comícios. A certa altura, Arthur chegou mesmo a enfurecer-se com eles, sentindo que conspiravam contra si, atraindo a atenção que lhe devia pertencer.

Eventualmente compreendeu que assassinar Nixon seria uma tarefa impossível e resolveu alterar os planos. O seu alvo principal passou a ser George Wallace, um candidato democrata conhecido pelas convicções segregacionistas numa altura em que a América ultrapassava já essa fase. Arthur considerava Wallace bastante mais acessível que Nixon, ainda que temesse que não tivesse um nome suficientemente famoso para lhe dar a atenção que almejava. Estava menos entusiasmado, mas havia chegado a um ponto em que sentia que tinha de matar alguém, por isso decidiu avançar à mesma com o plano.

A 15 de Maio de 1972, aproveitou a descontracção de Wallace após um comício num centro comercial, aproximou-se dele e disparou até ficar sem balas, atingindo-o quatro vezes, uma das quais na medula espinal. Três outras pessoas foram ainda gravemente feridas na confusão. Arthur foi rapidamente subjugado pelos apoiantes presentes no comício, mas o estrago estava feito. George Wallace passaria o resto da sua vida numa cadeira de rodas.

Em Setembro, pouco mais de um mês antes de Nixon ser eleito para um segundo mandato, Arthur H. Bremer viu confirmada uma sentença de 53 anos de prisão depois de as suas alegações de insanidade terem sido rejeitadas pelo tribunal. Quanto a George Wallace, a notícia fê-lo ganhar o voto de alguns Estados, mas acabou por se ver mesmo obrigado a dar por terminada a sua campanha presidencial.

Depois do encarceramento de Arthur, as autoridades investigaram o apartamento em que vivia e encontraram o seu diário, publicado em 1973 com o título Diário de um Assassino.


Continue a ler:
Efeito Borboleta, Parte II: Taxi Driver
Efeito Borboleta, Parte III: A Ascensão de Reagan


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Efeito Borboleta, Parte I: Diário de um Assassino Reviewed by Revista 21 on 03:00 Rating: 5

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