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Detinha Avelino: Paraíso do Carnaval


Estava num avião com destino ao Rio de Janeiro, pensando novamente nos motivos que me levaram a deslocar de Vitória em pleno sábado de Carnaval. A morte de um primo em segundo grau até merecia ter um representante da família, mas não tinha de ser necessariamente eu. Facto é que odeio o Carnaval e não queria ficar em Vitória no meio daquela loucura. No Rio deveria somente levar os meus pêsames e regressar.

Chamou-me a atenção a última passageira a embarcar, uma loura alta, de cabelos encaracolados e corpo exuberante. Sabia que ela se sentaria a meu lado, não por ser esta a única poltrona vazia mas por saber que o universo conspira sempre a meu favor. Alguns minutos depois da loura se acomodar, decidiu iniciar uma conversa. Contou que já tinha perdido o voo anterior e que quase perdia aquele também. Por sorte, disse ela, alguém tinha desistido de viajar. Sorri e pensei em como as brasileiras são comunicativas. Trinta minutos depois eu já sabia que a loura era vocalista de uma banda, que ela e o seu grupo tinham alguns shows agendados em boates cariocas e que tinha, de certeza, gostado de mim. Procurei não o levar a sério, afinal, louras gostam sempre de outras louras, mas a Melissa, ou Mel, como preferia ser chamada, era um pouco mais directa, com a mão na minha perna. Comprovei uma vez mais a questão do pensamento positivo. Quando pensamos, queremos ou idealizamos muito uma coisa, isso certamente acontece. Quase ao final do voo, a Mel perguntou-me onde eu iria passar o Carnaval e surpreendeu-se muito ao saber que eu estava a ir para um velório. Pensou que fosse piada, sorriu, mas no final disse que seria maçante ter de velar alguém com tanta alegria nas ruas.

Ainda que eu temesse mais do que gostasse as alegrias do Carnaval, não estava realmente muito motivada a apresentar hipocritamente os pêsames a um parente distante. A questão chegou a um impasse quando a Mel me convidou a passar o Carnaval com ela. Atacou-me novamente o medo do desconhecido, mas antes mesmo que ele passasse, estávamos nós a chegar ao Rio. Fomos recebidas por alguns membros da banda dela e de lá hospedámo-nos num hotel. Passámos uma tarde agradável a conhecer-nos melhor e à noite fomos para um camarote que já estava reservado. Senti-me um pouco deslocada, mas o barulho da bateria das escolas de samba pareceu agitar o meu coração de tal forma que passámos quase toda a noite a brincar, cantar e beber.

No dia seguinte acompanhei a Mel e a banda a um espectáculo. Ela canta realmente muito bem, mas como tudo o que é bom dura pouco, tive de me despedir da minha amiga. Era hora de regressar a Vitória e tentar explicar à minha mãe que infelizmente não tinha conseguido chegar ao velório do primo porque todas as ruas do Rio de Janeiro tinham sido tomadas pela alegria do Carnaval.

Por: Detinha Avelino
Detinha Avelino é uma escritora brasileira, residente em Lisboa. É autora dos livros eróticos «Seduzca Me» e «Pequeña Y Rara», escritos em espanhol, assim como de «Filha do Destino», sobre o qual pode encontrar mais informações aqui.

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Detinha Avelino: Paraíso do Carnaval Reviewed by Revista 21 on 00:30 Rating: 5

1 comentário:

  1. Anónimo24 de março de 2013 às 19:52

    Adorei essa cronica, ainda que nao tenha ficado explicito, penso que a cronista fez mais que conhecer a outra loura. Força!!

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