Detinha Avelino: Conhecendo um chulo
Confesso que não tinha noção do significado dessa palavra até ter ido outra vez sozinha à praia. Estava deitadinha a ler um livro quando percebi que um homem deitado ao meu lado me olhava fixamente. Por segurança, desisti do topless, já que estava na parte mais afastada da praia.
O homem abordou-me quando fui à água, perguntando-me se conhecia um fitness por ali. Disse que não e continuei a andar. Ele acompanhou-me e disse que era um PT. Ora, queridos, algo que uma loura odeia é sentir-se loura e eu, naquele momento, pus-me a pensar o que raio seria um PT.
Não perguntei, apenas sorri, e comecei a preparar-me para ir embora. Ele, insistente, disse que me conhecia de algum lugar e, acredite, conseguiu ligar o meu corpo quase nu a essa foto linda que aparece acima. Bem, inegavelmente a fama tinha-me alcançado. Sorri outra vez e ele disse que gostava imenso da Revista 21. Óptimo. Encaminhei-me para o carro com o jovem a acompanhar-me. Pediu-me o número de telefone e, não sei se por vaidade ou impaciência para me livrar dele, acabei por dar.
Algo estranho se passava comigo naquele dia, estava com imensas saudades do meu marido, que nunca mais retornava do Brasil. Mas tudo ficaria por aí se, cinco minutos depois de sair da praia, o meu telemóvel não disparasse a receber SMS. Tive de estacionar e ler e responder e ler e responder e ler outra vez. Duas horas depois, continuava o homem a mandar mensagens, perguntas, respostas. Desliguei o telefone.
No dia seguinte, estive na Baixa do Chiado logo pela manhã e novamente uma avalanche de «Onde estás?», «Queres vir ter comigo?», «Posso ter contigo?». NÃO.
Mais duas horas de mensagens e aceitei tomar um café ao pé do Cais do Sodré. Conversámos, ele a explicar a excitante vida de Personal Trainer e a querer compartilhar matérias para as minhas crónicas.
Despedi-me, já com pouco tempo para conversar, e alguns minutos depois recomeçavam as mensagens: «O meu carro tem a suspensão avariada, emprestas-me duzentos euros?» NÃO!
Vinte e tantas mensagens de «por favor, preciso muito» e eu finalmente consegui entender a mensagem subliminar. Mulher madura, sozinha e com aparente boa situação financeira é presa fácil. Por essas e outras é que decidi mudar de praia, bloquear as chamadas do chulo e levar alguém comigo sempre que sair. Alinha?
Por: Detinha Avelino
Detinha Avelino é uma escritora brasileira, residente em Lisboa. É autora dos livros eróticos «Seduzca Me» e «Pequeña Y Rara», escritos em espanhol, assim como de «Filha do Destino», sobre o qual pode encontrar mais informações aqui.
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