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Tatiana Almeida: Ponto de Confronto


Tatiana Almeida ficou em terceiro lugar no Concurso Novos Autores - Revista 21/Bertrand. «Ponto de Confronto» é uma carta de amor simples mas imaginativa, construída no eficaz contraste entre a água e o fogo. Tatiana Almeida joga de modo perfeito com as palavras, criando no espaço mínimo de um mini-conto um mundo de frustração e emoções que passa de forma clara para o leitor.


Quando era pequena lembro-me vagamente de um fogo posto tão grande que destruiu matos, terras de cultivo e palheiros. Recordo-me que os adultos estavam descontrolados, enquanto uns fugiam aos gritos, outros tentavam desesperadamente acalmar as chamas e ganhar tempo até à chegada dos bombeiros. Entre gritos, choros e correrias estava eu, uma rapariguinha sentada nas escadas de casa, com os seus calções de ganga que outrora teriam sido umas calças e uma t-shirt que ao início do dia era branca. Este pequeno ser com o olhar vidrado nas intensas chamas como se elas o prendessem com o seu movimento e gradação de cores abafadas.

Cresci com alma de fogo e toda a minha vida foi uma busca por poder, controlo e experiências intensas. Causei estragos nas pessoas com as quais me envolvia, tal como um fogo destruidor mas caloroso.

Sentada no parapeito da janela sinto-me como um fogo em rescaldo. Sem intensidade, brilho e força. Pela primeira vez fui apanhada pelas chamas que me consumiram, de um fogo maior do que eu própria – a paixão! Estou na janela de um 11.º andar e, apesar de me faltar a coragem, sinto-me tentada…

És a personificação da sensação das primeiras gotas de chuva miudinha a tocarem-me no rosto e a fundirem-se na minha pele como se sempre lá tivessem existido. Esse é o refúgio dessas puras, frescas e leves gotas de água divinas de imperfeição. Elas pertencem-me tal como eu lhes sou fiel. Cheguei a um ponto sem retorno! Necessito que essas gotas em mim habitem mas não posso continuar desprotegida à chuva. Se continuar aqui, porta fora, se essa for a minha escolha, terei que sofrer as consequências. No entanto, posso sempre abrigar-me. Entrar em casa e refugiar-me dessa chuva miudinha que não molha mas constipa. Tenho que me proteger e permitir-me encontrar refúgio, estabilidade e segurança. Continuo a ser esse Ser que necessita de sentir o toque dessas maravilhosas gotas, mas só essa sensação já não me chega. Por mais que entre em confronto com a minha alma de fogo é essa chuva que me faz sentir viva. És um vício que preciso de saciar! Um desejo louco e incontrolável por mais e mais… É tão difícil não querer quando significas tudo o que desejo.

Tens tudo o que preciso mas não te encontras preparado para mo dares! Não sentes essa necessidade de abrigo e refúgio. Não estás insaciável por mais de mim. Talvez esta seja a sensação certa no momento errado!

Fecho os olhos e sinto-te tão perto que quase te toco…

Como podes dizer que não queres mais quando sinto a minha presença em ti? A minha presença em tudo o que dizes ou fazes e até na maneira como olhas. Mas o que é isso da presença? O que é isso de me sentir em ti?

Desta janela parece tudo tão mais simples que me sinto a reacender.

Mistérios e mais mistérios…Não existem mistérios! Só existes tu, simples e genuíno. Tu és o meu grande mistério.


Texto: Tatiana Almeida

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