Opinião 21: As Coisas que te Caem dos Olhos (Gabriele Picco)

Em primeiro plano temos Ennio Bernini, um jovem italiano que não é capaz de chorar e tem um grave problema de flatulência, acabado de chegar aos Estados Unidos, onde vai trabalhar numa empresa imobiliária. Ao seu redor, encontram-se um homem que colecciona cinzas, uma japonesa que se exprime através de desenhos, um patrão com uma fisga no nome, uma gaivota que levou um tiro, uma rapariga com cancro que adora Britney Spears, e o seu irmão, que, através de uma câmara presa na cabeça, filma todos os pormenores da sua vida.

Sim, à primeira vista a história pode parecer estranha, mas bastam algumas páginas para que nos afundemos neste mundo de lágrimas reveladoras onde nadam peixes e outras histórias, descrito com uma poesia invejável por Gabriele Picco.

É um livro difícil de definir, uma fantasia de encruzilhada que salta entre a comédia, o romance, o drama e até o thriller. Um caso raro, que talvez seja capaz de agradar aos mais diversos públicos. E as imagens? Que dizer das belas imagens que vão acompanhando a história, no seu traço infantil e simbolismo adulto?

As Coisas que te Caem dos Olhos é uma das surpresas do ano. E se apreciar o habitual estilo narrativo italiano, aquela concisão patente, por exemplo, em algumas das mais recentes obras de Andrea Camilleri, nem pense duas vezes: este é mesmo para ler.

Texto: Tiago Matos


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